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Henrique Raposo
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A olho nu, há pouco em comum entre os escritores-nórdicos-da-moda e os clássicos da literatura nórdica, como Selma Lagerlöf. A paisagem humana de Stieg Larsson não podia ser mais distante da fábula 'O Tesouro' (Cavalo de Ferro) de Lagerlöf. Porém, apesar das diferenças a jusante, existem semelhanças a montante. Sim, as matérias-primas são diferentes, mas a forma como moldam esses materiais é idêntica. Uma coisa fundamental une Larsson e Lagerlöf: a escrita enxuta, neuroticamente enxuta. É só o osso. Não há cartilagem nem chicha. Não há metáforas, não há plasticidade barroca, há apenas uma narração sequíssima das aventuras das personagens. Ora, esta secura estilística, que sobrevive às modas, tem a sua raiz no luteranismo. Por oposição ao fausto retórico do mundo católico, Lutero impôs uma cultura seca e precisa. Uma boa oração, segundo o monge, era aquela que usava poucas palavras. Por vezes, 'Explicação do Pai Nosso' (Edições 70) até parece uma defesa estilística da concisão: "o que importa reprovar é o facto de não se usarem as palavras de acordo com a sua função".