Amadorismo e cinismo, Passos/Sócrates, etc.
Caro Carlos, parece-me que leu coisas que não estavam no meu post. Vamos por partes.
Sim, há tiros no pé. Sim, há um grave problema de comunicação política no PSD, particularmente irritante no atual momento. Esta liderança do PSD, que nunca me convenceu, está a ser estranhamente amadora. Mas o meu ponto não era esse. O que eu acho inaceitável é a equivalência moral que se faz entre o amadorismo/ingenuidade/falta de jeito de Passos e os actos e consequências de Sócrates. Essa equivalência - que está em vigor nos média - não é aceitável. Um está lá há 15 anos. O outro nunca lá esteve. Um levou o país à bancarrota. O outro é líder da oposição há um ano. Aproveitar o ruído do PSD para esconder o fracasso absoluto da governação PS é uma coisa inaceitável. Moral e intelectualmente. Um exemplo: na segunda-feira, o hino novo (?) do PSD teve mais buzz do que a notícia das 600 mil crianças que perderam um subsídio de família. Isto não é justo. Uma vírgula mal colocada numa declaração de Passos causa mais eco na imprensa do que um acto de má governação de Sócrates (ex.: a factura de electricidade das escolas triplicou com a Parque Escolar). Isto não é normal. Se Passos dá um espirro, todos os jornais caem em cima; há um motim de Teixeira dos Santos contra Sócrates, mas isso não causa polémica nem discussão. Isto não está certo. Não é honesto. O amadorismo do PSD não desculpa o cinismo dos média e do mainstream opinadeiro, que está sempre disposto a fazer o jogo do spin socrático. Lemos e ouvimos coisas que dizem aos portugueses que a crise começou na semana passada. No fundo, Carlos, estou a discutir uma questão de honestidade no debate público. Era, é, só isso.
Não falei em ideias "liberais" ou "conservadoras". Mas não aceito esse divórcio insuperável entre os portugueses e uma sociedade, vá, liberal. Como v. diz, é tudo uma questão de comunicação, de força e unidade, de cabecinha, bom-senso na forma como as coisas são apresentadas. Uma coisa que tem faltado ao PSD? Sim. Mas não era esse o meu ponto.
abraços,
HR