A escola de comentário portuguesa
Qual é a crítica mais comum a Passos? Não é cínico, é ingénuo, é um menino do caraças. Passos não é criticado pelas ideias que apresenta. Nada disso. Criticam-no, porque, imaginem, o homem é ingénuo (a coisa dos tiros nos pés) e porque não transformou o PSD numa coisa norte-coreana. E, no seguimento lógica da coisa, Sócrates continua a ser elogiado ("ah, ele é duro"), porque precisamente é um monstro de cinismo e calculismo. É o tipo que destruiu o nosso futuro próximo. É o tipo que mais atacou a liberdade de imprensa. Mas "ah, foda-se, é um gajo duro". Quando é que Portugal passou a ser esta coisa cínica?
A política não é pra meninos, sim senhora, mas há limites para a orgia de cinismo. E depois há um pormenor: analisar política não é o mesmo que fazer política. A crónica, o comentário, etc. devem ser feitos numa lógica exterior ao poder, numa lógica de foder o poder de alto a baixo. Mas, em "Lesboa", quem analisa o poder pensa como se estivesse no poder. É esta a nossa miséria, digamos, cultural: quem escreve, quem pensa, quem analisa não quer foder o poder. No máximo, quer foder com o poder.