Ratzinger e a ilegalização de Deus
Coluna de hoje do Expresso online:
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Aliás, esse também parece ser o interesse dos supostos especialistas da Igreja. Em Luz do Mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos, por exemplo, o entrevistador/especialista Peter Seewald perde metade do tempo com as questões, vá, mediáticas: pedofilia, casamento de padres, ordenação de mulheres. Com certeza: o Papa deve pedir desculpa pelos actos de pedofilia. Mas reduzir Ratzinger à condição de tipo-que-pede-desculpas e de tipo que gere-a-agenda-preferida-dos-media (quando é que os padres podem casar? E haverá mulheres no sacerdócio?) é muito poucochinho. Ratzinger é um dos grandes intelectuais públicos europeus e a sua voz merece ser ouvida sobre as grandes questões das nossas sociedades. A sua voz não pode ficar confinada à "comunidade de crentes" (T. S. Eliot dixit). Por outras palavras, apesar de ser um homem de Jerusalém, Ratzinger tem coisas a dizer sobre a gestão de Atenas. Podemos ou não concordar com essas posições, mas não as podemos descartar à partida, não podemos dizer "ah, são do Papa, logo, não interessam". Além de falta de inteligência, esta posição gozona revelaria intolerância.