27
Mar09
Carga pronta metida nos contentores
Henrique Raposo
1. Em primeiro lugar, devo dizer que fico mui feliz com este comité de boas vindas preparado pela Fernanda Câncio.
2. Em relação ao ponto. Se bem percebi, a Fernanda diz que há miúdos ciganos nas turmas normais. E então? O facto de existirem ciganos nas “turmas regulares” não retira uma vírgula de imoralidade ao facto de existir um contentor cheio de ciganos apenas. Mais: não retira um ponto e vírgula de imoralidade às declarações infelizes da responsável do Ministério ("discriminação positiva") - e este era o ponto de partida da crónica.
Mais: nessa “turma especial” – a do contentor – não estão outros miúdos. Estão apenas ciganos. Se fosse uma “turma especial” – com dificuldades de aprendizagem – também teríamos outras crianças não-ciganas nessa turma. Não, não estão ali “pessoas” com dificuldades em aprender; estão ali ciganos separados das outras crianças. Uma medida, aliás, que foi bem aceite pelos pais das crianças ciganas.
3. O problema é este, e convinha ser realista sobre a coisa, sem complexos: os ciganos só colocam os seus filhos na escola para recolherem prestações sociais. Convinha começar a discussão por aqui. Os ciganos não vêem na escola um sítio onde os seus filhos podem aprender coisas. A escola é um sítio que representa um rendimento mínimo garantido. Ponto. A escola não é um sítio onde a criança cigana vai aprender a fazer aquilo que sonha ser. Porque o pai não deixa. O futuro de uma menina cigana é determinado - à partida - pela vontade do seu pai. Isto, antigamente, tinha um nome: "sociedade machista e opressora". Agora não sei o nome que dão a isto. Será "direitos culturais"?
4. Já agora, a ideia de “turmas especiais” sempre me pareceu um tiro no pé. Colocar todos os alunos com “dificuldades de aprendizagem” na mesma turma pode facilitar a vida aos professores, mas isso representa um péssimo ambiente para os próprios alunos. Ficam estigmatizados logo à partida. É a “turma dos burros e dos mal comportados”. Muita gente vê o seu futuro enterrado no momento em que entra nestas turmas. Na minha escola, tinham o nome de “turmas complicadas”. De forma absolutamente criticável, os professores colocavam todos os alunos complicados numa turma. Era como meter todas as maçãs podres num único cesto. Claro que nesta turma nunca se aprendia nada. Porque a própria formação daquela turma partia do pressuposto de que eles não conseguiam aprender. Aqueles alunos eram mesmo uma carga metida – à pressa – em “contentores”.