Sócrates em Gramido, ou o hábito de perder a soberania
... em 2010, a perda de soberania económica é uma espécie de Convenção de Gramido em câmara lenta, com o euro alemão a tomar o lugar do mosquete inglês nessa árdua tarefa que é colocar os portugueses no curso da autogovernação. Aquilo que Jean-Claude Trichet terá explicado a Teixeira dos Santos não é diferente daquilo que uma legião de portugueses anda a gritar há anos. Aquilo que Angela Merkel terá soprado ao ouvido de José Sócrates não é diferente daquilo que Ferreira Leite anda a dizer há anos. Então, porque foi necessária uma intervenção externa para o governo acordar? Porque o ódio que um 'português' sente por outro 'português' continua a ser superior ao amor que esse 'português' sente por Portugal. O ressentimento ideológico continua a esmagar o patriotismo. Era assim em 1847. É assim em 2010. Entre a humilhação às mãos da nova Quádrupla Aliança (Alemanha, França, BCE, Comissão) e a admissão de que Ferreira Leite tinha razão, Sócrates preferiu a humilhação e a perda de soberania. A culpa não é dele, coitado. A culpa é nossa, de todos nós. Portugal não é um país de 'brandos costumes'. E essa falta de brandura começa logo no ódio que o 'português' sente por outro 'português'. O patriotismo é impossível nesta terra.
PS: em anexo, ler este post sobre um livro da Fátima Bonifácio.