Vale a pena?
Nas últimas semanas, tivemos dois sinais implacáveis sobre o destino do país. Em Ponte de Sor, os empregados de uma fábrica de componentes de automóvel preferiram o desemprego a aceitar a redução de regalias que poderia viabilizar a empresa. No PSD, vimos sucessivas notabilidades declararem não serem candidatos à chefia do partido e até acharem muito mal que alguém fosse.
Estes dois factos não deixam dúvidas: para os trabalhadores, nem sempre vale a pena trabalhar; para os políticos dos grandes partidos, quase nunca vale a pena, quando fora do poder, arriscar os seus confortos e interesses em luta política aberta.
É melhor o subsídio do que um salário; e é melhor jogar nos bastidores da política, à espera da rotação no poder e tentando impedir que outros se consolidem na liderança do partido, do que dar a cara e mostrar convicções à frente da oposição.
Portugal tornou-se um país em que o rendimento está dissociado do trabalho, e em que a influência política está dissociada da responsabilidade da liderança. O problema é este: conseguem imaginar o país diferente enquanto o trabalho não for a melhor maneira de ganhar a vida, ou enquanto a disputa franca, com propostas alternativas, não for o caminho para o poder? Sem isso, o que não vale mesmo a pena é esperar que alguma coisa mude.
Do Correio da Manhã 6.11.2009