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Clube das Repúblicas Mortas

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01
Nov13

Portas recupera Lucas Pires

Henrique Raposo

 


Expresso, junho de 2011


Lucas Pires

Francisco Lucas Pires já não está entre nós, mas é o político português mais actual. Aliás, quero avançar com uma notícia em primeira mão: Lucas Pires venceu as eleições de 5 de Junho (...) Partes inteiras do memorando da troika parecem palimpsestos do Grupo de Ofir, a unidade de elite reunida por Lucas Pires nos anos 80. Entre 1984 e 1985, estes ninjas do liberalismo de direita (Lucas Pires, António Borges, Cruz Vilaça, Fernando Adão da Fonseca, etc.) criaram o primeiro grande projecto liberal-conservador da III República (...) o dr. Passos e o dr. Portas deviam fazer uma sessão espírita com No Caminho da Sociedade: Objectivo 92, o livro que reuniu os trabalhos do Grupo de Ofir. Está lá tudo. Está lá a troika, e muito mais (...) Como todos os barbudos, Lucas Pires foi um profeta. 

E, como todos os profetas, Lucas Pires perdeu na vida terrena. Em 1985, esta direita desempoeirada foi esmagada pelo cinzentismo da direita-que-tem-medo-de-dizer-que-é-de-direita (vulgo: cavaquismo). Nos 25 anos seguintes, este projecto liberal-conservador ficou congelado na síndrome de enteada da direita portuguesa. Como a filhinha querida do regime era a esquerda, a direita abandonou o combate ideológico, assumindo uma inferioridade cultural. Nos últimos anos, as coisas começaram a mudar quando uma nova geração bateu à porta do PSD e do CDS. As jovens sereias e os jovens turcos de Paulo Portas são liberais e conservadores. E, quando Rangel e Passos disputaram a liderança do PSD, uma coisa ficou logo evidente: o PSD cavaquista e apolítico estava morto. Cada um à sua maneira, Rangel e Passos representaram, e representam, uma descolagem liberal. Ora, quando esta nova geração de direitolas começou a fazer das suas, o PS fez o favor de criar as condições para a intervenção externa, que, como se sabe, introduziu reformas que já estavam na mira dos direitolas indígenas. Aliás, fica a ideia de que o memorando da troika é uma fotocópia de um caderninho de Catroga & Moedas.

Para terminar esta crónica lucas-pirista, convém dizer que os dotes proféticos de Lucas Pires voltam a ser evidentes nesta questão da intervenção externa. Em 1988, Lucas Pires dizia uma coisa que só agora é visível: a UE representaria para Portugal uma revolução liberal; dizia ainda que seria difícil passarmos da órbita de 1975/76 para a órbita europeia. Aqui e agora, nós estamos - precisamente - a viver essa transição difícil. Em 2011, o país com a Constituição mais socialista do Ocidente está a ser confrontado com as ondas liberais da UE, esse projecto político que está no âmago de CDS, PSD e PS. É por isso que o 5 de junho de 2011 marca a vitória de Lucas Pires (...) porque o PS está amarrado à revolução liberal em curso. O PS, para ser o PS, não pode recusar as medidas da UE. O PS, para ser o PS, não pode rasgar o grande conceito do Lucas Pires europeísta: o duplo constitucionalismo. Porque o PS tem sido o campeão português desse duplo constitucionalismo europeu (...).


 

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