Excerto de ensaio publicado no Expresso (28 de Abril de 2012):
"(...) Antes de 2008, os tais modelos matemáticos diziam que uma crise de liquidez era virtualmente impossível. Resultado? A relação entre dinheiro-em-caixa e activos-financeiros-garantidos-por-dívida podia ser de 1 para 19. Foi o que aconteceu à Long-Term, empresa de dois prémios Nobel de Economia, Scholes e Merton. Esta empresa tinha 6,7 mil milhões em depósito, mas possuía 126 mil milhões em bens gerados na ficção financeira. Porquê? Porque os computadores diziam que uma crise de liquidez era uma impossibilidade até ao fim do universo. Problema? Estas fórmulas funcionavam com dados dos últimos cinco anos. Portanto, aquela absoluta certeza científica (repito: a crise do subprime era impossível até ao fim do universo) assentava num cálculo que apenas contemplava dados dos últimos cinco anos. Como é que um cientista pode ser tão irracional? Depois do caos de 2008, um dos geniozinhos da Long-Term disse o seguinte: “se eu tivesse vivido a crise de 1929, estaria em melhores condições para perceber os acontecimentos”. Os geeks sabem muito de matemática, mas nada de história. E o habitat da economia é a história, e não a matemática (...)"