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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

31
Jul13

Portugal, apesar de tudo, não é o Burundi (II)

Henrique Raposo
pp. 240-241

 

 

"(...) O Alentejo do meu avô era igual ao Alentejo das invasões francesas. Aquilo era a Mauritânia, meus amigos. Coisa áspera. O terceiro mundo estava ali estacionado. Mas, apesar de ser um camponês analfabeto, o meu avô arregaçou as mangas e tirou o país do terceiro mundo. Quando o meu pai nasceu, Portugal já estava no "segundo mundo". Por isso, o meu pai já pôde ir à escola: tirou a quarta classe e fez-se à vida. Foi o meu pai, meus amigos, que colocou Portugal a crescer a 9% ao ano. Foi o meu pai, ex-operário e agora empresário, que colocou Portugal no hall de entrada do primeiro mundo. E foi nesse hall que eu nasci. Devido ao trabalho do meu pai, eu estudei além da quarta classe, e, agora, sou o cronista-benjamim do maior jornal do país  - para grande desgosto do meu avô, que me queria no Avante! (...)".

31
Jul13

Portugal, apesar de tudo, não é o Burundi

Henrique Raposo
pp. 230-232

"(...) Este novo Portugal não saiu da minha imaginação. Ele existe, aqui e agora: as exportações portuguesas cresceram mais de 350% nos últimos 20 anos, e os cientistas portugueses começam a ganhar prémios com uma regularidade à la Mourinho (...) Estou a falar de milhares de histórias de sucesso. E, aleluia, sabe tão bem abrir os jornais e ver portugueses a partir a loiça no software ou no calçado. Mas, infelizmente, estas histórias não entram no nosso ADN mental. A nossa narrativa colectiva não permite o encaixe do sucesso português. É triste, mas é verdade: os factos positivos sobre Portugal são factos incómodos para os portugueses (...)

Não, não abanem a cabeça, porque eu não sou um desmiolado que está a ver uma Suécia a emergir em Vila Nova de Gaia. A minha natureza céptica impede-me de entrar na demência do otimismo (sim, o velho Portugal vai continuar a esmurrar-nos). Porém, o meu querido cepticismo também me impede de ser um escravo do pessimismo apocalíptico, essa espécie de otimismo virado do avesso. Por isso, não aceito ser uma mera caixa de ressonância da Geração de 70. Por isso, estou disposto a aceitar que Portugal, apesar de tudo, não é o Burundi (...)"

31
Jul13

A NATO também era uma impossibilidade

Henrique Raposo
Atlântico, Março 2008
"(...) Na segunda parte do livro, Lippmann tentou projectar a estratégia americana para o pós-II Guerra. Aqui, dá para perceber que a Guerra-Fria foi uma surpresa para os americanos. Em 1943, Lippmann ainda encarava a Rússia de Estaline como uma potência clássica normal (...)Lippmann via em Moscovo um dos parceiros centrais dos EUA para o pós-guerra; Rússia, China e Grã-Bretanha deviam ser os aliados americanos. Ou seja, o intelectual americano mais influente do seu tempo queria manter o ADN americano intacto, isto é, queria que os EUA evitassem contactos com a Europa continental. Afinal, «a nossa preocupação nunca recaiu sobre assuntos europeus, e tivemos sempre preocupados com assuntos mundiais. As nossas relações centrais têm sido, e são, com poderes extra-europeus»(...).
30
Jul13

O racismo da esquerda

Henrique Raposo
Atlântico, Dezembro 2007
"(...) Hirsi Ali (Somália, n.1969) chegou à Holanda no início dos anos 90, depois de sofrer os mimos da sua cultura natal (excisão genital, violência religiosa, casamento forçado). Estudou política. Entrou no partido trabalhista holandês. Quando as coisas aqueceram (9/11, Pim Fortuyn), Hirsi Ali começou a avisar os holandeses sobre dois factos: (1) o Islão está submerso numa cultura que nega os valores da tolerância; (2) o multiculturalismo holandês, ao recusar integrar as comunidades islâmicas, estava a criar quintas colunas que negam os direitos das mulheres e dos homossexuais. Os colegas de Hirsi Ali classificaram estas posições de «direitistas». Se defender os direitos das mulheres muçulmanas era sinónimo de direita, pois muito bem, Hirsi Ali deixou os trabalhistas e juntou-se aos liberais (como deputada). Porque não é aceitável, diz-nos, elevar «culturas beatas e misóginas para um plano de opções de vida aceitáveis e respeitáveis» (p. 348). Este espírito iluminista de Hirsi Ali chocou com os dogmas da esquerda que defende culturas e não indivíduos: o Partido do Trabalho estava «paralisado pela necessidade de se mostrar sensível às culturas imigrantes e de as respeitar» (p. 296), mesmo quando isso significava rasgar com os direitos individuais (...) o Estado holandês financia a intolerância religiosa (constrói escolas corânicas) e, depois, chama-lhe multiculturalismo (...)"
30
Jul13

O outro PC

Henrique Raposo

http://ecx.images-amazon.com/images/I/51JYK1WGMEL._SL500_BO2,204,203,200_PIsitb-dp-500-arrow,TopRight,45,-64_OU02_AA240_SH20_.jpg

 

Atlântico, julho de 2006:

 

"(...) O PC reina na Academia e nos média desde a contra-revolução cultural dos anos 60. Base ideológica? Uma simples dualidade de critérios: “o Ocidente, os EUA e as empresas multinacionais não podem fazer nada de bom; o mundo em desenvolvimento não pode fazer nada de mau”. [...] É um “marxismo cultural”. O velho marxismo explicava tudo (da traição da mulher do padeiro até ao degelo em Marte) através das relações económicas. Este novo marxismo explica tudo, mas mesmo tudo, pelo sentimento de pertença a grupos culturais, étnicos, sexuais. O motor da história era a luta entre classes. Hoje, dado que o velho motor engripou [...], a história passou a ser movida pela luta entre os tais grupos sócio-culturais. Tradução: o mau-da-fita, outrora o ‘burguês’, é hoje o ‘ocidental’; o herói, outrora o ‘proletário’, é hoje o ‘não-ocidental’. No passado, quando criticava o comunismo, um sujeito era apelidado de ‘fascista’. Hoje, quando critica um não-ocidental, um sujeito é logo apelidado de ‘racista’. Uma táctica brilhante, diga-se (...)"

30
Jul13

O racismo cor-de-rosa

Henrique Raposo

 

 

"(...) Este episódio da Quinta da Fonte mostra como jornalistas, políticos e comentadores têm medo de falar sobre as 'minorias'. É natural: aqueles que ousam criticar as ditas costumam ser rotulados de 'racistas' pelas patrulhas do SOS Racismo e demais bugigangas do politicamente correcto. Esta vulgata multiculturalista determina que o racismo é um monopólio do homem branco. O 'outro' (os negros, os ciganos, etc.) só pode ser uma vítima do racismo branco (...) os multiculturalistas ficam caladinhos quando surgem factos que comprovam a existência de racismo nas minorias étnicas. E este silêncio revela um pensamento racista. É isso mesmo: o politicamente correcto é um racismo cor-de-rosa. Isto porque os negros e os ciganos são tratados como crianças em ponto grande; crianças que nunca são responsabilizadas pelos seus actos. Balas esvoaçaram no meio da rua, mas a culpa é da Câmara de Loures. Este paternalismo que infantiliza o 'outro' só pode ser descrito com uma palavra: racismo. O politicamente correcto veste uma fatiota cor-de-rosa, mas não deixa de ser racista.

A 'comunidade' não puxa gatilhos. Até prova em contrário, apenas os indivíduos conseguem disparar uma arma. E aqueles "cowboys" da Quinta da Fonte têm de ser julgados; não podem ser desculpabilizados com base na cor da pele. Até porque a maioria das pessoas daquele bairro é gente decente que não merece ser confundida com criminosos. Meus caros, defender a tolerância implica tratar as pessoas como indivíduos - passíveis de serem responsabilizados - e não como índios a viver na impunidade de uma reserva cultural.

 

30
Jul13

Eça não tem razão

Henrique Raposo

p. 231

"(...) É triste, mas é verdade: os factos positivos sobre Portugal são factos incómodos para os portugueses. Isto sucede porque o nossa cultura está contaminada pela narrativa queirosiana, que, como se sabe, apenas percepciona factos negativos (...)"

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