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Clube das Repúblicas Mortas

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22
Out12

FMI no Benfica

Henrique Raposo

pp. 27-29

 

FMI no Benfica

Sim, sou um benfiquista fustigado pela época que agora findou, mas não estou a falar do Benfica por causa da minha dor de rins provocada pelos dribles de Hulk. Afinal de contas, sou um cronista mui sério. Eu só estou a invocar o santo nome do Benfica, porque o meu glorioso clube é - infelizmente - a metáfora futebolística do país que caminhou para a bancarrota. Sim, é verdade: parece-me evidente que o Benfica também precisa do seu FMI. Basta ler A Bola (um glorioso hábito que mantenho desde os seis meses de idade) para constatar as semelhanças entre a política de aquisições do Benfica (a nação gloriosa) e os hábitos de consumo de Portugal (a pátria civil). Só no último mês, o Benfica já contratou 127 uruguaios, 435 paraguaios e, atenção ao rigor científico, 3456 argentinos. O Benfica parece o Mercosul em chuteiras, e, qualquer dia, começa a importar claques do River Plate e cheerleaders do Boca Juniors (as brasileiras têm muita fama, mas o fim do arco-íris está na Argentina). Reparem que não tenho nada contra a Argentina. Pelo contrário: a amplitude térmica entre Borges e Valeria Mazza revela um país único. Não, o problema não é a Argentina. O problema é mesmo a minha nação, que tem mantido as aparências à custa do consumo desenfreado.

E o Benfica partilha ainda outra característica com o país que abriu falência: importa aquilo que desistiu de produzir. Ao invés do Barcelona ou Ajax, o Benfica desprezou as suas escolinhas, a sua cantera. Por que razão temos tantos estrangeiros? Apesar de ter um bom nome para vilão de ficção-científica, o avançado Kardec não tem assustado os guarda-redes contrários. Não era melhor apostar num produto da casa, como Nelson Oliveira? Além de ser um potencial candidato à Câmara de Gaia, o médio Filipe Menezes é exactamente o quê? Não era melhor apostar em putos benfiquistas, como David Simão? O Benfica não pode continuar ser este entreposto para jovens jogadores argentinos em trânsito para o Real Madrid ou para velhos jogadores argentinos de regresso ao River Plate. Tal como Portugal não pode continuar a ser este viciado na importação de bens e capital. Sim, à semelhança do Glorioso, Portugal não tem aproveitado a sua cantera. Aliás, este desaproveitamento chega a ser patético. Temos gás na costa algarvia, mas não o exploramos. Porquê? O porto de Sines é fundamental, mas ainda não tem as vias de acesso que merece. Porquê? A floresta é essencial para a economia, mas boa parte do nosso território rural ainda não está cadastrado. Porquê? Por outras palavras, Portugal não tem feito o óbvio. Portugal só tem procurado vitórias fictícias alimentadas pelo crédito e pelas importações. Tal como a minha pátria em chuteiras, o Benfica.

 

Expresso, 10 de Junho de 2011

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