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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

27
Dez11

O camião de cinza de Julian Barnes

Henrique Raposo

Henrique Raposo, A Tempo e a Desmodo - O camião de cinza de Julian Barnes

 

(...)

 

Mas o pior nem sequer é esta culpa. O pior nunca é atirar cinza sobre os outros. O pior é perceber que, afinal, não vivemos num jardinzinho, mas numa paisagem lunar. O pior é perceber que lançámos cinza sobre nós próprios. É isso que o nosso narrador descobre. Tony Webster nunca conseguiu perceber os sinais de Veronica e, sobretudo, da mãe de Veronica. Resultado desta miopia no tacto e no trato? O nosso homem fez a escolha errada, abriu a porta errada, virou à esquerda quando tinha tudo para seguir em frente. Webster, no fundo, percebe que está a viver no futuro errado. E isso é tramado. É como ver chegar um camião cheio de cinza. É ver esse camião a despejar a sua carga lunar sobre o nosso jardinzito. 



Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/o-camiao-de-cinza-de-julian-barnes=f696507#ixzz1hixKD6Rw

22
Dez11

Fetiche europeu: ai que não há esperança

Henrique Raposo

Henrique Raposo, A Tempo e a Desmodo - Fetiche europeu: ai, que não há esperança

 

Coluna de hoje do Expresso online:

 

(...)

Portanto, em 1996, a identidade europeia ainda tinha de recuar até 1945. Exagero? Não sei, talvez. Mas, de facto, os europeus não deram a devida importância à paz e prosperidade de que usufruíram na pausa histórica (1989-2008). Como dizia o meu avô num português perfeito, we never had it so good.

Mas a problema principal do livro nem sequer é este pessimismo deslocado no tempo. O problema central está no facto de Finkielkraut assumir que Auschwitz é uma questão da Humanidade inteira. Lamento, mas não é. Auschwitz é uma questão da história europeia, e não mundial.

(...)

21
Dez11

O cão de Levinas

Henrique Raposo

 

Levinas: o último kantiano na Alemanha nazi era um cão. Esse cão reconhecia a humanidade nos prisioneiros. No stalag, aquele abanar de rabo era o único sinal de que Levinas e os outros prisioneiros faziam parte do género humano.

21
Dez11

O pessimismo não é global (2)

Henrique Raposo

Público, 28 de Outubro de 2007

 

Mira Kamdar (fellow na Asia Society, Nova Iorque) procurou fazer um relato em tom jornalístico das diversas faces da Índia. E o resultado não é brilhante. Mira Kamdar perde-se num registo demasiado descritivo; o livro acaba por ser um inventário das grandezas e misérias da Índia contemporânea: o sucesso tecnológico lado a lado com a pobreza, corrupção, ausência de infra-estruturas e epidemias; o sucesso económico e a ascensão estratégica da Índia; a crescente presença de indianos na sociedade americana, etc. Planet India torna-se cansativo porque o único fio condutor da multidão de factos apresentada é a confiança desmesurada que Mira Kamdar coloca no futuro da Índia. Aqui podemos ver ao vivo a predisposição mental da actual elite indiana; uma predisposição assente em dois pontos: (1) confiança absoluta no futuro da Índia enquanto líder mundial e (2) a noção de que a ordem internacional dominada pelos ocidentais entrou em colapso e que o Ocidente, em si mesmo, entrou em decadência.

Mira Kamdar, como todos os indianos, critica o excesso de peso ocidental nas várias instituições internacionais (defende a democratização dessas instituições). Mas o ponto central de Mira Kamdar é outro, a saber: existe um novo soft power a actuar no mundo, o soft power indiano. E de onde vem esse soft power? Em primeiro lugar, a Índia é uma civilização milenar com influência no sudeste asiático e médio oriente. Em segundo lugar, a cultura popular indiana tem um alcance mundial (Bollywood é mesmo um fenómeno global). Em terceiro lugar, ao desenvolver o capitalismo dentro de um sistema democrático, a Índia representa um modelo alternativo ao capitalismo autoritário da China. (...) Kamdar coloca o soft power indiano contra o soft power americano/ocidental. Ou seja, a Índia deve prosseguir um caminho entre o autoritarismo chinês e o consumismo desenfreado dos ocidentais; Nova Deli deve projectar um caminho low-cost, apresentando soluções poupadinhas, digamos assim, para os problemas mundiais (medicamentos mais baratos, consumo de energia mais modesto, por exemplo). Enfim, Mira Kamdar propõe uma versão forreta do capitalismo; uma versão que não consuma as energias da Mãe Terra. Rosa Luxemburgo dizia qualquer coisa como “socialismo ou barbárie”. Mira Kamdar actualizou a expressão para “Índia ou barbárie”. Em Planet India, o mundo só tem duas hipóteses: seguir o caminho poupadinho da Índia espiritual (que salvará o planeta) ou continuar pelo caminho do materialismo ocidental (que está a conduzir a humanidade ao quinto dos infernos). Se a Índia não conseguir impor o seu modelo ao mundo, se o modelo ocidental continuar a ser dominante, o planeta Terra implodirá, garante a autora. Por outras palavras, Al Gore meets Gandhi. 

Que não restem dúvidas: a Índia enquanto Grande Poder é um dado político central no início do século XXI. O problema de Planet India é que eleva esta ascensão indiana até ao nível da teologia política. Kamdar não faz análise política. Deixa-nos apenas um acto de fé. A Índia é, de facto, muito importante no sistema internacional, mas não é a salvação teológica do planeta. Kamdar tem razão quando afirma que a ordem internacional precisa de ser reactualizada (os ocidentais têm de perder poder nas instituições internacionais), mas a autora entra na esfera da irracionalidade quando assina o atestado de óbito ao soft power ocidental e, sobretudo, quando transforma a Índia no novo centro do mundo. A Índia é importante, sim senhora, mas não é o anjo redentor do planeta.

21
Dez11

O pessimismo não é global

Henrique Raposo

 

“ L’histoire humaine retiendra du premier quart du XXI siècle non pas le 11 septembre, mais bien de décollage de L’Inde et de la Chine, un événement aussi important que la Renaissance ou la Révolution industrielle en Occident”. 

21
Dez11

Não há coisa mais importante

Henrique Raposo

 

A resolução do problema da Segurança Social "vai ter, pois, de envolver toda a sociedade e está visto que o problema reside no sistema, com o qual é preciso romper (...) Tratar-se-ia, essencialmente, de assegurar que os descontos feitos por cada cidadão activo lhe pertençam totalmente (...) cada cidadão contribuinte teria conhecimento da sua conta individual, a sua dimensão, a sua rentabilização" (pp. 211-212).

21
Dez11

Da injustiça geracional

Henrique Raposo

 

Orçamento de Estado, p. 243. Se o sistema não mudar, em 2030 (ou seja, amanhã) a SS declara falência. Mas, no Portugal de 2011, é impossível discutirmos este facto. Porque o facto passa a ser um desejo ideológico de uns seres maus, os tais neoultraliberais com batata frita.

21
Dez11

O principal problemas das escolas? Os paizinhos

Henrique Raposo

Coluna de hoje do Expresso online:

 

(...) Um dos miúdos diz assim: "estive cinco meses fora da escola, mas a minha mãe não sabia". Uma mãe atenciosa, portanto. E este é o tipo de mãe que gosta de intimidar os professores quando, por acaso, resolve ir à escola. Não é preciso passar muito tempo com professores para ouvirmos histórias de bullying destas mães e destes pais sobre os professores. "Como se atreve a chumbar a minha filha, que até sabe quando é 2 x 2, como?", "como se atreve a levantar a voz para o meu filhinho, coitadinho, que é tão bom, um anjo, como?". Em vez de ralharem com os filhos, estes progenitores insultam e agridem os professores, desautorizando por completo a autoridade da escola. O abandono escolar começa aqui (...)


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