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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

30
Dez11

Em 2012, lembrem-se deste ensaio

Henrique Raposo

Num mundo pós-europeu, a Alemanha precisa de nós, e nós precisamos da Alemanha

 

I. 1956: eis a data mais desprezada no processo de construção europeia. Nesse ano, franceses e britânicos foram humilhados no Suez. Foi uma humilhação à moda antiga, daquelas que implicam retiradas militares e penitências diplomáticas. Podemos dizer que 1956 simbolizou o início do mundo pós-europeu, o nosso mundo, o mundo que atingiu a maturidade em 2008, o mundo onde os europeus já não têm o poder para impor a sua vontade.

 

II. A partir de 1957 (Tratado de Roma), a Europa pós-Suez começou a reinventar-se através de uma linguagem que recusava o poder. Aqueles que continuaram a usar o "poder" como variável de análise passaram a ser classificados de reacionários, soberanistas ou belicistas. Desta forma, sucessivas gerações de europeus foram educadas num pressuposto teórico que rezava assim: vivemos num mundo pós-Estado (o Estado já não é o centro da política internacional) e pós-poder (o poder não interessa, o que interessa é o diálogo no TPI e ONU). Neste quadro mental, as relações de poder entre Estados deixaram de ser pensadas, e tudo ficou encoberto por uma nuvem de palavras e expressões apolíticas: "integração", "partilha de soberania", "solidariedade europeia", "direito internacional", "multilateralismo", etc. No fundo, a elite europeia imaginou um mundo onde toda a gente se sentava à mesa do "diálogo". Nesta Távola Redonda com Habermas no lugar do Rei Artur, a Bélgica tinha o mesmo peso da China (na arena internacional), e Portugal era tão importante como a Alemanha (na arena europeia). Ora, é por isso que - neste momento - a elite europeia não consegue pensar a ascensão das novas potências asiáticas. Pior: é por isso que não consegue pensar a ascensão da nova Alemanha pós-culpa.

 

III. Ante este vazio intelectual, nós, europeus, temos de desenvolver uma linguagem política com a capacidade de compreender o poder da nova Alemanha. Temos de criar um raciocínio político que re-legitime a relação entre a Alemanha e os estados europeus. E isto tem de ser feito de forma clara, sem o dialecto obscuro e apolítico dos tratados. Neste sentido, parece-nos interessante convocar um termo que é usado na análise às relações entre os EUA e os seus aliados: "ordem constitucional".

 

IV. Tal como salientou John Ikenberry, Washington, ao longo das últimas seis décadas, criou uma ordem política composta por fóruns económicos (OMC, FMI, Banco Mundial) e também por alianças que se transformaram em instituições (NATO). Esta ordem política altamente institucionalizada é mais conhecida pela sua alcunha: o Ocidente. Quando falamos em Ocidente, estamos a falar deste conjunto de organizações que prendem Washington a capitais menos poderosas. Por outras palavras, o Ocidente assenta num "acordo constitucional": os EUA aceitam restringir o seu poder através de instituições que forçam a partilha de poder (ex.: os europeus tiveram sempre a direcção do FMI), e, em troca, os seus aliados consideram legítima a hegemonia americana. Ou seja, os checks and balances exteriores de Washington são os seus aliados. E, atenção, não há aqui anjinhos. Esta ordem constitucional não faz desaparecer o poder americano. Porém, esse poder é domesticado, civilizado, filtrado. Através desta ordem constitucional aplicada à política internacional, a hegemonia americana torna-se mais previsível aos olhos dos outros Estados.

 

V. A relação entre a nova Alemanha e os outros estados da UE está a ser construída nestas bases.  

 

VI. Ora, já existe o elemento que consagra o acordo constitucional entre o pólo mais forte (alemães) e os pólos mais fracos (nós, os outros europeus). Esse elemento constitucional chama-se Moeda Única e o respectivo PEC. As pessoas têm memória curta, e por isso já se esqueceram do seguinte encadeamento histórico: a reunificação da Alemanha (1990) causou uma onda de pânico na Europa; Thatcher e Mitterrand quiseram bloquear a reunificação alemã; a consumação da Moeda Única é filha desse medo provocado por uma Alemanha reunificada. Portanto, no meio do atual ruído técnico e económico, não podemos esquecer que o Euro é o resultado de um trade-off constitucional entre Berlim e a Europa: a Alemanha abdicou do Marco, e, em troca, o resto da UE aceitou cumprir um conjunto de regras germânicas (PEC). Este é o acordo político que rege a vida da UE. Neste sentido, as novas exigências alemães (ex.: limites constitucionais à dívida) devem ser entendidas como um aprofundamento da ordem constitucional já existente entre Berlim e as restantes capitais. Na relação entre Alemanha e Europa, estamos a assistir a uma mudança de grau e não de natureza. Um pormenor pormaior.

 

VII. Esta dimensão política da nova "questão alemã" é ainda reforçada por um dado que fica sempre esquecido: o emancipado eleitorado alemão. No passado, o eleitor alemão calava-se, e passava o cheque. Hoje, o eleitor alemão ainda passa o cheque, mas exige condições. E ainda bem. Em 2011, a Europa não podia continuar a ser construída em cima do fantasma de Hitler. A Europa de 2011 não podia ser edificada no desrespeito pela democracia da Alemanha. Quando impõe condições aos outros Estados, Merkel está a gerir - precisamente - a democracia alemã, isto é, está a gerir as percepções dos cidadãos germânicos, que começam a ficar irritados com o Euro e com a UE (um perigo). Ou seja, Merkel está a tentar construir um cenário que torne impossível o regresso da Alemanha ao Marco (um perigo mortal).

 

VIII. Em Portugal, muitos dizem que o nosso país estaria melhor fora do Euro. Pois, de facto, o acordo político em redor do Euro dizia respeito à Europa central, dizia respeito à Alemanha e aos suas vítimas clássicas, sobretudo França e Benelux. Sim, Portugal podia ter evitado a entrada no Euro. Mas agora é tarde. Depois, muitos pensam que a Europa - no seu todo - estaria melhor sem o Euro. Na resposta, voltamos a frisar um ponto: agora é tarde. Além disso, uma UE sem o Euro seria mais violenta para os países pequenos. O Euro institucionaliza o poder da Alemanha. Uma Alemanha com o Marco seria mais poderosa do que esta Alemanha do Euro. Sem o Euro, Berlim projectaria o seu poder de forma mais imprevisível. O Euro obriga a Alemanha a lutar com luvas no ringue da UE. Se Berlim tirasse as luvas, a coisa ficaria - literalmente - mais negra e caminharíamos para um futuro imprevisível e para o qual não teríamos bússola. Nós, europeus, precisamos desta ordem constitucional dentro da Europa. 

 

IX. E também necessitamos deste envelope institucional fora da Europa. A Alemanha é demasiado grande para a Europa, mas é demasiado pequena para um mundo com a China, a Índia e os EUA. Portanto, a Alemanha devia saber que precisa dos restantes Estados europeus. E o resto da Europa devia saber que necessita da Alemanha para enfrentar este mundo pós-europeu inaugurado em 1956.

30
Dez11

Para o PCP, com muito amor

Henrique Raposo

Henrique Raposo, A Tempo e a Desmodo - Para o PCP, com muito amor

 

 

(...) Portanto, se as redacções não conseguem dizer que Kim jong-il era um "ditador", vão dizer o quê quando Castro morrer? Que era um notável líder? Um brilho celeste tristemente bloqueado pela canzoada yankee? 

(...)

Aliás, a segunda agressão da guerra pertence à URSS: a esquecida invasão da Finlândia, em Novembro de 1939. Depois, enquanto a Alemanha já oferecia os habituais tabefes à França, a URSS anexou os Estados bálticos. Não acreditam? Então inquiram um estónio ou um lituano sobre este assunto, e depois reenviem a resposta ali para o "Avante".   


Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/para-o-pcp-com-muito-amor=f697035#ixzz1i1GnYPJ8

29
Dez11

O Avante devia fazer recensão deste livrinho

Henrique Raposo

https://farm4.static.flickr.com/1048/1201045461_2cb5fdb752.jpg?v=0

 

 

Atlântico #29 (Agosto 2007)

 

 

"(...) À semelhança de Tony Judt, Davies relembra que Europa não é sinónimo de Europa Ocidental; França, Reino Unido e Alemanha não resumem a História europeia. Neste sentido, Davies aponta para uma evidência ainda desconhecida na Europa ocidental: 1945 não significou libertação para metade da Europa. Para os europeus de leste, 1945 representou o início de meio século de subjugação colonial às mãos dos soviéticos. Além de salientar este facto que ainda incomoda as boas consciências, Davies recorda um facto histórico enterrado, e bem enterrado, no baú das coisas incómodas: a Polónia foi invadida pela Alemanha mas também pela URSS; Alemanha e URSS invadiram (ao mesmo tempo, em conluio político e em articulação militar) a Polónia em Setembro de 1939. Mais: a segunda agressão da Guerra deu-se em Novembro de 1939 quando a URSS atacou a Finlândia. Mais ainda: enquanto a Alemanha atacava a França, a URSS anexou os estados bálticos. A URSS também foi agressora; URSS também iniciou a II Guerra (...)"

29
Dez11

A necessidade de Deus (e de Cristo)

Henrique Raposo

 

 

(...)

Muitos autores contemporâneos, como Alain Dershowitz, defendem um conceito de Direito Natural secular, sem qualquer apelo a Deus. Mas isso é o mesmo que ser do Benfica e gostar do Pinto da Costa ao mesmo tempo . Um Direito Natural completamente secularizado é uma contradição em termos, porque não tem uma gota de transcendência. Quando dizemos que cada indivíduo tem direitos inalienáveis que nenhum poder terreno pode pôr em causa, quando dizemos que cada pessoa tem direitos inalienáveis que nenhum direito positivo pode rasgar, estamos - na verdade - a dar um salto de fé em direcção a uma concepção de amor ao próximo, um concepção de amor que transcende a imanência da lei, da cultura e do nosso próprio corpo (i.e., Deus) 

(...)

 



Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/a-necessidade-de-deus-e-de-cristo=f696847#ixzz1hueOvN7X

28
Dez11

Justice & God

Henrique Raposo

 

"Contemporany moral philosophers seldom mention God in their writings, and rarely if ever quote passages from the Bible to illustrate or support their views (...) Nicholas Wolterstorff's impressive new book swims against the tide of the prevailing secularized conception of philosophy. While it is unmistakably a contribution to mainstream philosophical debates about justice and rights, it refers frequently and unashamedly to the Hebrew and Christian Bibles. What is more, it accords God a central place in the argument". 

 

John Cottingham, TLS, August 13, 2010. 

28
Dez11

A aldeia do sexo oral

Henrique Raposo

 

(...) O famoso funciona como o vizinho de toda a gente, o elo de ligação entre átomos urbanos. Numa evolução recente, os big brother transformaram desconhecidos em famosos de aldeias mediáticas. E a Casa dos Segredos é isso mesmo: mais uma aldeia seguida pelas massas urbanas e suburbanas do país.

Portanto, aquelas duas senhoras falam mal dos concorrentes da Casa dos Segredos como se estivessem a falar mal dos filhos dos vizinhos da aldeia. Criticam a menina do fellatio com o empenho que colocariam na crítica à filha desnaturada do padeiro lá da terra. Mas, já que estamos aqui, gostava de deixar um conselho às minhas queridas vizinhas: experimentem sorrir para os vossos vizinhos reais, aqueles que estão no ali mesmo no café ou na rua, experimentem recriar - no bairro lisboeta - o ambiente da aldeia. Experimentem, que não dói (...)



Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/a-aldeia-do-sexo-oral=f696652#ixzz1honchI00

28
Dez11

"Os canalhas neoliberais"

Henrique Raposo
27
Dez11

Do sexo oral

Henrique Raposo

O Correio da Manhã diz que "Cátia faz sexo oral com Marco". Lamento, mas os meus amigos do CM estão errados. A Cátia fez sexo oral ao Marco. A preposição com implica reciprocidade e generosidade por parte do macho. Virtudes ausentes da cena em questão. 

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