As nomeações e o populismo fácil
1. O que é mau jornalismo? É fazer uma peça que diz assim "ai, o governo já fez 500 nomeações". E pronto. Já está.
2. Ora, este valor só tem valor se for comparado com o governo anterior, com os governos anteriores. Os números têm de aparecer em comparação. Quantas nomeações fez Sócrates em dois meses? Mais: importa ir ver ministério a ministério. Todos os ministros atuais foram claros: "cortámos nas nomeações". Portanto, das duas uma: ou os ministros estão a mentir, ou estamos a ser alimentados por um jornalismo populista que não quer fazer o trabalho de casa. E, já agora, boa sorte nessa procura das nomeações do governo Sócrates.
3. Nós estamos perante o governo mais poupado ao nível das nomeações e gastos (ex.: Cristas tirou 5 motoristas ao ministério da agricultura. 5, cinco), mas este mesmo governo está a ser castigado pelo nível de transparência inédito que colocou à disposição de toda a gente. Aliás, é extraordinário que os jornalistas que dizem "olhem, olhem tantas nomeações" não façam - depois - o raciocínio lógico: esta transparência é inédita na nossa democracia. Sócrates, Guterres e Cavaco não deixavam ver assim as suas nomeações. E, partir de agora, nenhum governo vai conseguir esconder as suas nomeações. Portanto, no meio deste populismo fácil, Portugal cresceu uns pontos do ponto de vista institucional. Convinha sair da maionese do populismo para perceber estes pormenores.
4. O pior de tudo? Este populismo fácil mete tudo no mesmo saco. Claro que o governo tem de fazer nomeações de pessoas de confiança. Chama-se governo. Chama-se governação democrática. Quem ganha nomeia pessoas de confiança. É assim aqui, nos EUA, na França, etc., etc. O problema da Era Sócrates não estava nos gabinetes, mas sim na nomeação de boys sem CV para cargos fora do governo (ANACOM, Instituto do Emprego, etc.). O governo é o governo, e deve ser gerido pelos boys. É lá que eles devem estar. O problema começa quando o governo começa a colonizar o Estado, a administração, as entidades reguladoras, as empresas públicas, etc. Donde as críticas justas à recente nomeação da direção da CGD, o grande erro de Passos a este nível.