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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

03
Ago11

Coisa do BPN (1)

Henrique Raposo

1. Sócrates devia estar nas galés por causa da sua gestão do BPN.

 

2. Por que razão este novo governo não ouviu o Montepio? Por que razão negociou directamente com o senhor cavaquista que não gosta das ventoínhas da EDP? O Montepio não queria tudo? O BIC era o único que queria comprar tudo?

 

3. Passados três anos, continuo sem perceber: por que razão o ex-governo nacionalizou um banco marginal do nosso sistema bancário?

03
Ago11

Os preços dos transportantes e Lisboa

Henrique Raposo

 

 

Coluna de hoje do Expresso online:

 

(...)

 

Durante anos e anos, os diversos governos protegeram a população da zona de Lisboa. Percebe-se porquê: o circulo eleitoral de Lisboa é o mais importante do país. Devido a essa protecção, as empresas de transportes que actuam na grande Lisboa (no grande Porto deve ser igual) cavaram um buraco financeiro gigantesco. Ano após ano, o país inteiro pagou esse buraco através das tais compensações indemnizatórias. Pessoas de Coimbra, de Aveiro, de Faro, que nunca usaram o Metro, pagaram o dito Metro com os seus impostos. Este esquema tinha que acabar um dia.


(...)
02
Ago11

Camilo, o "Amor de Perdição" e nós

Henrique Raposo

 

Coluna de hoje do Expresso online:

 

(...)

 

Depois, há em Camilo uma sinceridade que não encaixa no cinismo queirosiano e, acima de tudo, no cinismo pós-moderno que nos apascenta. Aos olhos do leitor de hoje, os excessos sentimentais das personagens de Camilo são irreais, caricaturais, implausíveis. "Mas então a tipa escolhe ir para um convento em vez de casar com um bonitão rico?", "mas então o tipo saca logo da pistola só porque o outro tentou seduzir a amada?". Estes excessos não são plausíveis aos olhos da ironia pós-moderna. O que é uma pena. Revela uma falta de imaginação. Revela que os leitores de hoje só concebem a existência de pessoas iguais a nós, pós-moderninhos, cínicos e irónicos. A bruteza de sentimentos nobres de Camilo não encaixa numa cultura que só sabe lançar ironia sobre aquilo que é sincero e nobre.

(...)



02
Ago11

No país de Camilo

Henrique Raposo

Crónica de 23 de Julho

 

(...)

 

No fundo, estão aqui em jogo duas visões sobre o nosso século XIX. As actuais gerações veem o século XIX português através dos olhos de Eça. Isto quer dizer que apenas olham para a paz posterior a 1851. E quer dizer que olham somente para os joguinhos retóricos dos salões, para a demanda do tacho, para a comédia parlamentar, etc. É assim o Portugal oitocentista de Eça: inofensivo e a tender para a comédia cínica. Dado que só tem esta grelha de leitura mui queirosiana, o leitor moderno fica perdido na visão de Camilo, essa coisa poderosa que aborda o caos e as guerras anteriores a 1851. Este Portugal camiliano nada tem que ver com a comédia de cobardes retratada por Eça. O Portugal de Camilo não pende para a comicidade branda, pende para a violência. Ali temos as invasões francesas e os bandos de ladrões portugueses que dizimavam os flancos de Junot. Ali temos as guerras civis entre os anti-Cristo (liberais) e os padrecos (miguelistas). Ali temos um país que viveu várias gerações à lei da bala e que, por isso, respira violência por todos os poros. Numa palavra, a nação de Camilo está cheia de portugueses anti-queirosianos: gente dura e pouco branda, gente com paixões sentimentais e políticas que não admitem concessões, gente que aposta tudo, gente que perde ou ganha tudo, no fundo, gente que é a negação dos "vencidos da vida", gente que é a negação dos tais brandos costumes.   

 

(...)

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