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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

02
Ago11

Camilo, o "Amor de Perdição" e nós

Henrique Raposo

 

Coluna de hoje do Expresso online:

 

(...)

 

Depois, há em Camilo uma sinceridade que não encaixa no cinismo queirosiano e, acima de tudo, no cinismo pós-moderno que nos apascenta. Aos olhos do leitor de hoje, os excessos sentimentais das personagens de Camilo são irreais, caricaturais, implausíveis. "Mas então a tipa escolhe ir para um convento em vez de casar com um bonitão rico?", "mas então o tipo saca logo da pistola só porque o outro tentou seduzir a amada?". Estes excessos não são plausíveis aos olhos da ironia pós-moderna. O que é uma pena. Revela uma falta de imaginação. Revela que os leitores de hoje só concebem a existência de pessoas iguais a nós, pós-moderninhos, cínicos e irónicos. A bruteza de sentimentos nobres de Camilo não encaixa numa cultura que só sabe lançar ironia sobre aquilo que é sincero e nobre.

(...)



02
Ago11

No país de Camilo

Henrique Raposo

Crónica de 23 de Julho

 

(...)

 

No fundo, estão aqui em jogo duas visões sobre o nosso século XIX. As actuais gerações veem o século XIX português através dos olhos de Eça. Isto quer dizer que apenas olham para a paz posterior a 1851. E quer dizer que olham somente para os joguinhos retóricos dos salões, para a demanda do tacho, para a comédia parlamentar, etc. É assim o Portugal oitocentista de Eça: inofensivo e a tender para a comédia cínica. Dado que só tem esta grelha de leitura mui queirosiana, o leitor moderno fica perdido na visão de Camilo, essa coisa poderosa que aborda o caos e as guerras anteriores a 1851. Este Portugal camiliano nada tem que ver com a comédia de cobardes retratada por Eça. O Portugal de Camilo não pende para a comicidade branda, pende para a violência. Ali temos as invasões francesas e os bandos de ladrões portugueses que dizimavam os flancos de Junot. Ali temos as guerras civis entre os anti-Cristo (liberais) e os padrecos (miguelistas). Ali temos um país que viveu várias gerações à lei da bala e que, por isso, respira violência por todos os poros. Numa palavra, a nação de Camilo está cheia de portugueses anti-queirosianos: gente dura e pouco branda, gente com paixões sentimentais e políticas que não admitem concessões, gente que aposta tudo, gente que perde ou ganha tudo, no fundo, gente que é a negação dos "vencidos da vida", gente que é a negação dos tais brandos costumes.   

 

(...)

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