"Era um homem ainda bastante novo e era neto do antigo proprietário dos terrenos de que o pai de Salazar fora feitor. Contava-se uma história assaz reflectora (sic) do feitio do chefe. Em miúdo, este costumava brincar com o pai dele (...) Um dia, o patriarca passou junto das crianças e surpreendeu Salazar a tratar o filho por tu. Logo ali lhe exigiu que dobrasse a língua e dissesse "menino Afonso", como lhe competia à sua condição. Muitos anos depois, já Salazar era Presidente do Conselho (...) Salazar interpelou-o: "e o menino Afonso, o que tem para me dizer".
Bénard da Costa diz que este episódio ajuda a perceber Salazar. Não digo que não. Mas, antes disso, este episódio ajuda a perceber o Portugal que está a montante de Salazar, a montante de qualquer português. Este episódio é Portugal. Não digo que era Portugal, porque ainda vejo esta cultura aristocrática por todo o lado. No caso Strauss-Kahn isso tem sido evidente. Vejo grandes críticos de Salazar, ora essa, pessoas de esquerda, pois então, a repetir as formas de pensar do tal homem que humilhou uma criança só porque ela não disse "menino Afonso".