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Na Única/Expresso da semana passada, o resumo mui científico do congresso do PS:
A FRASE
"A Europa está a dar uma lição ao mundo", Almeida Santos, o génio da hermenêutica da globalização. Do resto, depreende-se que Portugal está a dar uma lição à Europa, e que o PS está a dar uma lição a Portugal. Tendo em conta o estado da Europa e de Portugal, este dominó socialista faz todo o sentido.
A TIRADA SOCRÁTICA
"Isto passa todas as marcas da leviandade". Não, esta tirada não é da Madre Teresa. É mesmo de Sócrates, que, como toda a gente sabe, é o homem do hemisfério norte com mais autoridade para lançar acusações de leviandade. Fiquei à espera de um workshop sobre Ética, mas Sócrates não me fez a vontade.
UM GRANDE MOMENTO
Os congressistas a bater palmas ao PSD. Quando a delegação do PSD foi anunciada por Almeida Santos, o povo-que-tinha-acabado-de-chegar-em-autocarros começou a apupar o PSD. Para abafar este povo-que-segue-à-risca-a-lógica-de-diabolização-do-líder, os delegados bateram palmas aos sociais-democratas.
A ANEDOTA
Pedro Silva Pereira disse qualquer coisa como isto: "este congresso é o mais vibrante da história do PS". Vibrante? 'Soporífero' seria mais apropriado. Este congresso foi um longo comício de três dias. Com três excepções (Jaime Gama, Ana Gomes e Rómulo Machado), todos os oradores seguiram o guião.
DESILUSÃO
Um triunvirato: António Costa, Francisco Assis e António Vitorino. É penoso ver estes três homens a seguir acriticamente a retórica e as falácias políticas e económicas de José Sócrates. Se era para dizer aquelas coisas, mais valia estarem calados (à semelhança de Luís Amado ou António José Seguro).
A REVELAÇÃO
"O primeiro-ministro que nos conduziu à bancarrota não tem condições para nos fazer sair dela". Esta frase pertence a Rómulo Machado, o único congressista que teve coragem para enfrentar, em campo aberto, a propaganda do glorioso líder. A culpa desta bancarrota tem um rosto claro: José Sócrates.
O CROMO
Conheci o grande Tino de Rans. Fiquei a saber que esta figura ímpar está a preparar uma revolução nos media: o primeiro jornal itinerante que vai sair de 10 em 10 anos. Juro que isto é verdade. E juro também que o Tino foi o único socialista que me fez rir em três dias de cinzentismo socialista.
O TÉDIO
Neste congresso cubano, todos os oradores repetiram a ladainha programada. Até parece que receberam um script obrigatório logo à entrada da Exponor. O "centralismo democrático" do PCP não deve ser muito diferente deste PS socrático. Como é que o PS desceu tão baixo ao nível do pluralismo nos debates?
UMA GRANDE IDEIA
Em 2008, quando eu comecei a escrever no Expresso, o tema da flexibilização laboral ainda era um tabu medonho. Em 2011, acabei de assistir a um congresso onde o centro-esquerda de Portugal apresentou como bandeira eleitoral o combate aos "factores de rigidez do mercado laboral". I rest my case.
UMA IDEIA IDIOTA
"Queremos que as exportações representem 40% do PIB", Sócrates. Pois, toda a gente gostava muito que isso acontecesse. O problema é que Sócrates continua a achar que uma economia sã resulta de um acto de vontade, e não de condições objectivas. Eu também gostava de ter a Angelina Jolie no meu quarto.
A MENTIRA
A ideia de que a "crise política" é a causa da bancarrota faz-me lembrar um velho amigo. Durante toda a noite (que começava às 17h), ele bebia que nem um perdido. No dia seguinte, para justificar a ressaca, ele dizia que a culpa era "daquele último whisky". O culpado era só aquele último whisky.
A GUERRA
Durante os últimos meses, o PS andou numa guerra ideológica interna: apoiar as reformas liberais e europeias (ex.: flexissegurança), ou apoiar a manutenção do statu quo socialista em Portugal? Do mal, o menos: o PS escolheu a sua face europeísta e aceitou a "europeização" do nosso modelo social.
A PROMESSA
"Não sou dos que fogem", José Sócrates. De facto, o PS ficou traumatizado com a fuga de António Guterres em 2001. Sócrates vestiu a pele do anti-Guterres, e, por isso, agrada imenso ao militante traumatizado com a fuga do senhor comissário. Esta obsessão é uma das causas do actual autismo do PS.
O VENCIDO
Teixeira dos Santos. No discurso do PEC IV, o ministro das finanças explicou (e muito bem) que a governação assente na dívida barata chegou ao fim, ou seja, o socialismo democrático tal como o conhecemos bateu na parede. Os congressistas de Matosinhos esqueceram, alegremente, este facto reaccionário.
O SUCESSOR
Vai uma aposta? Daqui a três meses, eu estarei novamente num comício do PS. Nesse comício, a questão será esta: quem será o novo líder do PS? Francisco Assis (uma esquerda Blair) ou António José Seguro (uma esquerda mais, vá, à esquerda)? Nesse congresso, espero encontrar mais debate e menos propaganda.
PARA MAIS TARDE RECORDAR...
O discurso de Jaime Gama. No meio do caos e da loucura propagandística, Gama disse duas coisas. Primeira: a crise económica tem uma dimensão nacional que tem de ser analisada. Segunda: não existem insubstituíveis. Foi um belo 'xeque' a José Sócrates. Assis ou Seguro consumarão o 'xeque-mate'.