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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

20
Jan11

A quem serve o FMI?

Rui Ramos

Se o FMI não existisse, teríamos de o inventar. Já pensaram no jeito que esse velho fantasma nos faz? Sem ele, nunca teríamos tido a vitória desta quarta-feira, a maior desde Aljubarrota. É verdade que logo apareceram desmancha-prazeres a explicar que o FMI, em Portugal, nunca seria mais do que o sócio menor de um resgate europeu. No meio do fogo de artifício, ninguém quis saber. Tal como ninguém quis saber que este “sucesso”, a juros insuportáveis, só foi possível graças à assistência do BCE. Ou que o caminho actual, conforme avisou Teodora Cardoso, pressupõe uma austeridade que, sem o FMI, poderá ser cada vez maior.

Nada disso importa. O que importa é determinar quem ficou “triste” na quarta-feira. O governo promoveu o necessário inquérito. Os resultados, anunciados logo na véspera pelo ministro da Defesa, desfizeram as dúvidas: é a “direita” quem “saliva” pelo FMI. Ah, a “direita”. Já não lhe bastava ter as costas largas, agora também tem de ter as glândulas hiperactivas. Segundo a tese oficial, a malvada quer abrir a porta ao FMI para cometer aquilo a que nunca se atreveria sem essa cobertura.

Com o devido respeito pelo nosso Pavlov governamental, parece-me que o FMI não estimula só a direita. Perante o FMI, se a direita saliva, a esquerda baba-se. Sim, em Portugal, é a esquerda quem mais precisa dessa assombração. Não para justificar o que se propõe fazer, mas para se desculpar do que não conseguiu fazer depois de 15 anos de domínio do governo e da legislatura. Sob o império da esquerda, o país passou a divergir do resto da Europa e ficou à mercê dos “mercados financeiros”. Para as esquerdas, porém, tudo estaria bem, não fosse o FMI e o que ele é suposto representar. O envelhecimento da população, os défices orçamentais, o desequilíbrio das contas externas, a anemia económica e o endividamento, que fazem os credores internacionais desconfiar da nossa capacidade de pagar o que lhes pedimos – não são factos, mas apenas boatos “economicistas”. O verdadeiro problema do país é só um: a conspiração “neo-liberal” encabeçada pelo FMI.

Não vale a pena explicar o que é ou o que faz o FMI. É a sigla dos maus: banqueiros, leitores de Hayek, etc., englobados numa mesma entidade convenientemente estrangeira. Para os líderes das esquerdas portuguesas, o FMI funciona como o equivalente do “bloqueio imperialista” que a ditadura comunista de Cuba invoca para justificar a miséria a que reduziu os seus súbditos. Sem esse espectro, cairiam em crise existencial. Porque é a crença de que todo o mal do mundo deriva do que chamam FMI que os poupa a qualquer reflexão sobre o fracasso da sua governação para aumentar o potencial de crescimento da economia ou para viabilizar, sem cortes, este Estado dito “social”. E se lhes acontecer serem um dia aliviados do poder, ainda hão-de citar o FMI para tentar cair como vítimas de “pressão externa”. Nem todos, é verdade, vivem nesta santa simplicidade. Mas parece demasiadas vezes que por cada João Cravinho, consciente da realidade, há dez almas para quem tudo é uma questão de saliva.

Publicado em Expresso, 15 de Janeiro de 2011.

20
Jan11

WTF?

Henrique Raposo

Fernando Nobre: "Deem-me um tiro na cabeça porque sem um tiro na cabeça eu vou para Belém"

 

 

É só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia, é só mais um dia.

20
Jan11

As 40 mulheres assassinadas por ano

Henrique Raposo

Henrique Raposo, A Tempo e a Desmodo - As 40 mulheres assassinadas por ano

 

Coluna de hoje do Expresso online:

 

(...)

 

II. Como é evidente, existe um abismo entre a teoria dos brandos costumes e as 40 mulheres que são mortas todos os anos pelos próprios maridos e namorados. A violência do caso Carlos Castro é, digamos, mais mediática, mas valia a pena olhar para as 40 mulheres não-mediáticas que morrem todos os anos às mãos dos maridos-que-têm-medo-de-serem-cornos. Porque a mentalidade nada branda que procura vitimizar o assassino-que-afinal-gosta-de-mulheres e que diaboliza a vítima-que-é-maricas é a mesma mentalidade que diz "ela estava mesmo a pedi-las" - para citar a Paula Cosme Pinto. De facto, muitos tugas pensam que uma mulher de minissaia estava mesmo a pedi-las. E, a este respeito, convém relembrar que o famoso caso de violação colectiva que serviu de base ao filme "Os Acusados" (ao lado) ocorreu na comunidade de emigrantes portugueses nos EUA.

 

III. Certa vez, uma amiga disse-me que a diferença entre um tuga e um tipo dos confins do Islão mais durinho não é uma diferença de natureza, é apenas de grau.

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