Texto de hoje do Expresso online
Dr. Cavaco, tenho uma estratégia supimpa para si: deixe Alegre enterrar-se sozinho. De cada vez que abre a boca, o bardo de Águeda perde votos. Faça um black out, dr. Cavaco. V. Exa. não precisa de falar.
I. O perfil dos candidatos parece-me essencial na actual corrida eleitoral. Nesta altura, as pessoas querem mesmo alguém que conheça os factos e os números concretos. Os números contam. Ao contrário do que reza o mito alegrista/soarista, os números não são a gramática do burocrata sem coração. Os números são, isso sim, a conversa da realidade. E realismo é o que tem faltado à política portuguesa. Neste ponto, Cavaco tem clara vantagem. Um dia, eu gostava de ver um jornalista fazer a seguinte pergunta a Manuel Alegre: "caríssimo bardo de Águeda, V. sabe qual é a diferença entre o défice e a dívida?". Mais: "V. Exa. sabe fazer uma conta de dividir com dois divisores?". Com Alegre em campanha, Cavaco não tem que abrir a boca.
II. De cada vez que tenta desvalorizar as contas e os números, Alegre perde votos. E, ainda por cima, ele faz isto com uma arrogância aristocrática que chega a ser cómica. Há dias, dizia qualquer coisa como isto: devíamos jogar os Lusíadas à cara dos mercados, a ver se eles aprendem a respeitar o peso da nossa história. Pois, pois. Alegre é a caricatura do lirismo irresponsável que nos conduziu até ao presente buraco. Com Alegre em campanha, Cavaco não tem que abrir a boca.
III. Como se isto já não fosse suficiente, Alegre tem uma bota-difícil-de-descalçar, a saber: Alegre precisa do apoio do PS, logo, não pode ser muito crítico em relação à política económica do PS, que é vista como a principal culpada pela crise. Se fizer um discurso anti-sistema, Alegre encostar-se-á ao BE e ao PCP, e isso afastará os socialistas. Ou seja, o bardo de Águeda está num beco sem saída.
IV. Moral da "estória": o dr. Cavaco não precisa de abrir a boca. Cale-se, dr. Cavaco.