![Julian Assange Anarchist Punk]()
É preciso ter muito cuidado com a ideologia ("revolução digital") que está a montante da Wikileaks e desse vago anarquista chamado Assange. Essa ideologia é uma espécie de Frankenstein que junta diversas peças de velhas ideologias (anarquismo, democracia directa, etc.). É uma ideologia que odeia o poder das democracias e das sociedades liberais, as nossas. E, se fosse conduzida até ao seu fim lógico, esta ideologia implicava o seguinte:
a) Os diplomatas deixariam de ter imunidade diplomática. Ou seja, a diplomacia morria, e ficaríamos novamente numa espécie de neo-Idade Média, sem meios diplomáticos para criar um cordão de civilização entre os Estados.
b) Não poderiam existir serviços secretos. Como toda a gente sabe, tudo o que acontece de mau no mundo tem origem na CIA ou na Mossad.
c) Não poderia existir programas de protecção de testemunhas. Na era da transparência, o cidadão não precisa da polícia para fazer denúncias. Basta a delação no anonimato da net.
d) Obama não podia falar em segredo com Medvedev (tal como falou aqui em Lisboa). Essas conversas não mediadas pelos media são segredos conspirativos. (Acham que estou a gozar? Então, leiam os profetas destes radicalismo internético). Na mesma onda, Merkel não podia falar a sós com Sócrates. Como toda a gente sabe, isso é a conspiração que está a destruir o Estado Social português.
e) Os jornalistas não podiam ter conversas off the record com políticos. O off the record é a "diplomacia" da política interna. Para esta gente da "revolução digital", o off the record deve ser uma espécie de fonte de hipocrisia intolerável.
f) Pior: os jornalistas tinham de revelar as suas fontes. A fonte é um segredo intolerável e autoritário na era da transparência instantânea.
g) Os advogados deixariam de ter direito ao sigilo profissional. Como toda a gente sabe, x e y são criminosos, logo, para quê o recurso ao julgamento? Aliás, os tribunais e o estado de direito são farsas burguesas que a democracia virtual vai destruir.
h) Os psicólogos, médicos e padres também deixariam de ter direito ao sigilo.
Texto de hoje do Expresso online