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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

26
Nov10

Alma Conservadora

Henrique Raposo

 

Texto de hoje do Expresso online:

 

"... não é um livro brilhante sobre o conservadorismo anglo-saxónico enquanto escola de pensamento (há muito, muito melhor), mas é, de facto, uma boa análise do estado actual da direita americana. E se Walzer perguntou se podia haver uma esquerda decente, Sullivan - perante o actual fanatismo e radicalismo do movimento republicano - fez a seguinte pergunta: pode haver uma direita americana não-fanática, não-ideológica, não-ultrareligiosa? Pode. Contra os "conservadores da fé", Sullivan - um "conservador da dúvida" - defende o valor do cepticismo, e tem toda a razão. No ADN do conservador, o cepticismo está antes de tudo. O conservador parte da dúvida e não da certeza. A certeza é coisa de reaccionário"

 

(...)

 

III. Com todos os seus defeitos, o livro de Sullivan acaba por mostrar uma coisa muito importante: nos EUA de hoje, a grande maioria dos republicanos (uma mera posição partidária) não são conservadores (uma essência)".

26
Nov10

Alemanha

Henrique Raposo

 

Crónica da semana passada:

 

 

Meus amigos, eu não sou propriamente um germanófilo. Aliás, a minha lista de embirrações antigermânicas é maior do que o PIB alemão: vivi uma temporada na Baviera, e nunca vi um sorriso nativo; a comida alemã é a pior da Europa; Gerhard Schroeder é uma vergonha política sem nome; o Benfica perde sempre na Alemanha; chumbei no secundário por causa do Alemão (bem que podia tirar 19 a História ou a Português, que o sacaninha do 9 a Alemão aparecia sempre); tirando Kant, Schopenhauer e Nietzsche, nunca gostei dos pensadores alemães (solipsismo-com-palavras-de-cinquenta-carateres não é o mesmo que pensamento); e, num Algarve já remoto, uma balzaquiana teutónica partiu-me o coração (ela falava de Bismarck, amigos). Como podem ver, sou um bocadinho germanófobo. E é por isso que senti uma picada epistemológica quando cheguei a esta conclusão germanófila: na atual gestão da crise do euro e da dívida, a Alemanha tem a razão do seu lado.

No meio das discussões técnicas do 'economês', as pessoas tendem a esquecer que o euro assenta num acordo político: a Alemanha abdicou do marco, e, em troca, o resto da UE aceitou cumprir um conjunto de regras 'germânicas'. A Alemanha unificada era demasiado poderosa, e tinha de ser açaimada. O euro foi esse açaime institucional que os alemães aceitaram colocar. Ora, Berlim cumpriu a sua parte do acordo. Atenas, Lisboa e afins infringiram esse acordo. A Grécia mentiu, e Portugal foi irresponsável. Porém, de forma inacreditável, temos assistido à inversão do ónus da responsabilidade. Meio mundo anda a culpar a Alemanha pela atual crise e a exigir que Berlim pague as contas dos Estados endividados sem qualquer protesto ou exigência. Peço imensa desculpa, meus caros amigos, mas a Alemanha tem o direito e o dever de ser dura com a Grécia e com Portugal. A ajuda a estes países não pode ser uma mera questão técnica. Tem de ser uma questão política: em troca da ajuda financeira, Grécia e Portugal têm de ser forçados a realizar reformas institucionais que impeçam a repetição desta situação.

Estas exigências alemãs só não são compreensíveis para aqueles que já esqueceram um pormenor: a Alemanha é uma democracia antes de ser uma passadora-de-cheques. Na gestão desta crise, Merkel tem de gerir as angústias do eleitor-contribuinte alemão, essa personagem que os europeístas de algibeira tendem a negligenciar. Merkel não pode simplesmente pegar no dinheiro dos alemães e dizer 'olhem, vou ali ao Club Med pagar as contas daqueles malandros que seduzem as nossas balzaquianas nas praias'. Como é fácil perceber, o contribuinte alemão não pode pensar que o seu dinheiro é uma caução eterna da vaidade consumista dos povos do Sul; o eleitor alemão tem de pensar que esta ajuda extra é uma alavanca para uma mudança de comportamentos na Grécia e em Portugal, no sentido de colocar esses Estados na rota de cumprimento do acordo celebrado aquando da fundação do euro. Por outras palavras, o euro não pode ser construído contra a vontade do povo alemão (86% dos alemães estava contra a ajuda à Grécia). Se os alemães atingirem o ponto de saturação com o euro, a UE ficará à beira do abismo. Perante tudo isto, meus amigos, seria bom que os povos do Sul começassem a fazer os seus trabalhos de casa a tempo e horas. É que não existe nenhum buço hitleriano na face über-balzaquiana de Merkel.

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