Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

07
Jan10

Portugal, o último paraíso da velha esquerda

Henrique Raposo

 

Texto publicado na revista do Expresso:

 

 

Os portugueses não estão bem cientes de uma coisa: Portugal é o país mais à esquerda de toda a Europa. Perdão: Portugal é o país mais esquerdista de toda a OCDE. Perdão, outra vez: Portugal é o país mais esquerdista do mundo, com excepção das ditaduras comunistas que se transformaram em monarquias. Existem vários factos que comprovam esta tese. Olhemos, por exemplo, para o nosso código laboral. Portugal tem as leis laborais mais rígidas de toda a Europa e da OCDE. Mesmo quando acrescentamos os países que querem entrar na OCDE (Chile, Brasil, Indonésia, etc.), Portugal continua a ser o país mais esquerdista. Ou seja, dentro do mundo civilizado, Portugal é o país mais à esquerda. Depois, tendo em conta os 200 países do mundo inteiro, não será difícil descobrir que Portugal está abaixo da 150.ª posição em termos de flexibilidade laboral. Portanto, quando me perguntam o que representa a década 2000-2010 para a esquerda portuguesa, respondo assim: em pleno século XXI, a esquerda portuguesa conseguiu manter Portugal congelado em meados do século XX. Portugal é a Antárctida socialista da política mundial. O resto do mundo está, de facto, em 2010, mas Portugal está parado em 1976.

Tendo em conta este inverno esquerdista, não espanta que Portugal revele outro facto que reforça o seu estatuto de Miss Esquerda: durante a década de 2000-2010, dois partidos de extrema-esquerda (PCP e BE) conquistaram 20% do parlamento. Já não existem partidos comunistas de relevo na Europa, excepto em Portugal. E, como se não bastasse um PCP, esta década ofereceu-nos um PCP cool (BE), destinado à malta que ouve pop britânica em vez de Zeca Afonso. Em 2010, BE e PCP são os dois principais fenómenos desse Entroncamento político chamado Portugal.

Ao longo da década, como se adaptou o PS à presença desta extrema-esquerda alienígena? Da pior maneira possível. A década 2000-2010 foi o palco de algo muito grave para a evolução da esquerda portuguesa: em vez de evoluir no sentido da esquerda moderna (dentro do cânone nórdico), o PS deixou-se colonizar intelectualmente pelo BE. Há dias, Soares afirmou que é preciso unir forças contra a extrema-esquerda. Pois, de facto, PCP e BE são perigosos. Mas há que relembrar uma coisa: as ideias de BE e PCP ainda são legítimas em Portugal, porque o PS legitima essas mesmas ideias com discursos e acções. Na hora H (crise de 2008), o governo de Sócrates e os senadores do PS não se distinguiram de Louçã nas críticas à globalização. Perante a crise, o PS aninhou-se com o BE no mesmo ninho anti-liberal.

Em 2005, no IDN, António Vitorino fez um discurso notável na defesa de uma Europa (e de uma esquerda) mais liberal. Esse discurso tinha ressonâncias da esquerda britânica e do liberalismo de esquerda dos nórdicos. Os primeiros tempos de governação Sócrates pareciam indiciar que o PS ia percorrer essa via de modernização aberta por Vitorino. Agora, no final da Era Sócrates, sabemos que essa arejada via foi destruída. Em vez de evoluir num sentido de esquerda liberal nórdica ou britânica, o PS deixou-se colonizar pela velha esquerda albanesa. Em vez de evoluir de 1976 para 2010, o PS regrediu de 1976 para 1966. É por isso que o PS – a par do BE e do PCP - ainda recusa dar liberdade às famílias na escolha da escola para as crianças. É por isso que o PS - a par do PCP e BE - continua a defender os jurássicos “direitos adquiridos”, essa entidade mística que vira o país para o passado e não para o futuro. Estes “direitos adquiridos” protegem os empregos garantidos nos anos 70 e 80, mas travam o caminho a quem nasceu nos anos 70 e 80. Todas as organizações internacionais (OCDE, FMI, UE, etc.) afirmam que Portugal tem de flexibilizar as suas leis laborais, mas a nossa esquerda não quer admitir essa realidade. A nossa esquerda prefere estar errada com os “direitos adquiridos” do que estar certa com o resto do mundo. Assim, no final da década 2000-2010, a flexi-segurança da esquerda nórdica não passa de “fascismo” para a esquerda portuguesa. Os nórdicos, esses tontinhos, são salazaristas sem o saberem.

05
Jan10

Monte de lixo

Henrique Raposo

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

  •  
  • Henrique Raposo:

  •  
  • Rui Ramos:

  •  
  • Notícias

  •  
  • Revistas

  •  
  • Blogs

  •  
  • Arquivo

    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2013
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2012
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2011
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2010
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2009
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D