Na "Ler" deste mês, podem encontrar um ensaio que escrevi sobre a tese de Fukuyama. O "fim da história" já fez 20 anos.
a entrada é esta:
Francis Fukuyama estava duplamente errado. Para começar, o seu «Fim da História» foi desafiado por uma modernidade alternativa ao modelo ocidental: o «capitalismo iliberal» assente nos valores asiáticos. Depois, a existência de democracias em todas as longitudes poderia dar-lhe razão. Mas não dá. Estes regimes liberais não-ocidentais nasceram muito antes do momento sagrado para o autor norte-americano: 1989.
o fim é assim:
Ao longo de décadas, Burke desmascarou o paradoxo do poder britânico: a Grã-Bretanha não podia ser liberal em casa e autoritária na Índia e na América. A forma autoritária como os britânicos governavam os indianos e os colonos americanos constituía a negação da Grã-Bretanha. Em 1776, seguindo esta linha de raciocínio burkeana, John Adams e Alexander Hamilton fundaram os EUA. Em 1947, seguindo a mesma linha, Gandhi e Nehru fundaram a Índia democrática. Ora, hoje precisamos de estar atentos a este raciocínio de Burke. Os colonos da Virgínia [...] não estavam a impor uma ordem diferente. Queriam apenas ser respeitados pela ordem liberal inglesa. Durante décadas, Gandhi respeitou o poder inglês, porque queria que a Índia fosse reconhecida por Londres como um elemento democrático e liberal. Hoje, a mesma Índia, o Brasil, África do Sul e as demais democracias não-europeias exigem respeito da parte de EUA e europeus. Nós, velhos ocidentais, temos de reconhecer que um indiano tem tanta legitimidade democrática como um francês ou inglês. Temos de admitir que, nas Cimeiras de Copenhaga deste mundo, a voz brasileira ou indiana tem tanta legitimidade democrática como as vozes europeias. Temos de saber dar este passo. Se não aceitaremos esta humildade burkeana, estaremos a trair aquilo que somos. É preciso enterrar o liberalismo kung-fu de Fukuyama. É preciso ressuscitar o liberalismo cool de Burke.