Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

29
Jan10

Um pacto laboral

Henrique Raposo

Crónica do Expresso de sábado passado:

 

O país 'económico' só discute o duplo 'D': dívida e défice. Esta discussão é necessária, mas não resolve o nosso problema de fundo: por que razão não crescemos a um ritmo aceitável? E a resposta a esta pergunta tem uma simplicidade marcial, caro leitor: o investimento privado não gosta de nós. Portanto, a pergunta que deveria preocupar os nossos génios 'económicos' é a seguinte: por que razão o investidor privado foge de Portugal como Maomé fugia do toucinho? Bom, na minha cabeça de não-génio 'económico', o investidor privado evita Portugal, porque a nossa economia é patrulhada por dois exterminadores de investimento, a lentidão da justiça e o código laboral [...]

 

 

25
Jan10

Alegre a sério

Rui Ramos

Perante Manuel Alegre, é tentador estar desprevenido: o velho lírico, sempre pronto para “qualquer coisa de louco e heróico” (como anunciou no último Expresso), a eterna pedra no sapato do PS, a vítima dos abraços de Louçã -- quem melhor do que ele para garantir a Cavaco Silva um passeio de reeleição? Mas seria um erro menosprezá-lo. É preciso, mesmo contra alguma evidência, levar Manuel Alegre a sério. 

 

Alegre terá logo uma vantagem: não precisa de justificar um mandato, e ainda para mais um mandato numa época de frustração. As zangas passadas com Sócrates emprestaram-lhe uma cor de independente. Se for escolhido pelo PS e não der satisfações ao BE e ao PCP, chegará à campanha moralizado por uma primeira vitória sobre as máquinas partidárias. Mas tudo isto, sendo importante, não é o mais importante.

 

Na referida entrevista, Alegre não escondeu um dos alicerces das suas esperanças: “sou uma pessoa transversal”, “ganho votos ao centro e até à direita” -- “da última vez, até monárquicos!” Tudo isto é sabido e geralmente aceite. Alegre é mesmo transversal: leva, segundo deixa constar, a vida de um morgado culto, entre caça e literatura; exibe, por outro lado, o cadastro de um antifascista de 1960. É o que sairia de um cruzamento de Che Guevara com o príncipe de Salina. Vale a pena explorar as origens e as consequências desta miscigenação. 

 

A mistura que este patrício de esquerda pressupõe, entre a esquerda radical e a direita tradicionalista, nada tem de contra-natura. É mesmo a mais natural de todas, ao juntar todos aqueles que resistiram sempre contra a possibilidade de as massas acederem à prosperidade ou ao poder sem a intermediação dos seus superiores sociais (à direita) ou intelectuais (à esquerda). Têm um inimigo em comum: a modernidade, assente na democracia representativa e na economia de mercado. É esta comunhão na rejeição que explica o fascínio da esquerda de 1960 pela figura do aristocrata arruinado (veja-se o Barranco de Cegos de Alves Redol ou o Delfim de Cardoso Pires). 

 

No século XIX, houve a aliança formal de setembristas e miguelistas na Patuleia. Alegre, com alguma habilidade, pode arranjar outra Patuleia, combinando a direita social e a esquerda ideológica. O ambiente é propício. A crise actual revelou os limites e desequilíbrios da nossa modernização. Desde a década de 1960, formaram-se classes médias, mas dependentes do Estado e inseguras; e apareceu, mais recentemente, uma nova intelectualidade liberal, mas sem peso político. As velhas classes sociais (de direita) e intelectuais (de esquerda) ainda impõem em Portugal os figurinos de respeitabilidade: que espanto, se fidalgos caçadores e estudantes antifascistas, mesmo já só em espírito, encherem de ar as suas velhas superioridades para uma última campanha, “louca e heróica”, contra Cavaco Silva, o símbolo mais recente do Portugal “moderno”? 

 

A força de Alegre não virá da unificação das esquerdas, mas da conjugação dos reaccionários portugueses, de direita e de esquerda. Pode ser, se quiser e souber, o candidato da reacção. Nos tempos que correm, convém levá-lo a sério. 

 

Publicado no Expresso, 16 de Janeiro de 2010.

 

Pág. 1/7

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

  •  
  • Henrique Raposo:

  •  
  • Rui Ramos:

  •  
  • Notícias

  •  
  • Revistas

  •  
  • Blogs

  •  
  • Arquivo

    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2013
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2012
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2011
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2010
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2009
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D