- Estou? É do Banco XPTO?

- É, sim.

- Estou a ligar por causa do concurso para a vaga de gestor aí do banco.

- Muito bem. Quais são as suas habilitações?

- Licenciatura em História e mestrado em Relações Internacionais.

- Ah? O senhor está a gozar ou quê? Isto é para gestão bancária, amigo.

- Mas o Dr. Vara só tem uma licenciatura em Relações Internacionais, e já foi gestor dos dois maiores bancos do país.

- …

- Olha, desligou! Querem ver que os tipos querem mesmo alguém com licenciatura em gestão para o cargo de gestor bancário?! Este país está perdido. Então já não chega o cartão do partido? Vou telefonar ao [piiii].

Na semana passada, Armando Vara afirmou que se sentia "vexado" com um editorial de Henrique Monteiro (e parece que exige 150 mil euros de indemnização). Vara não deve saber o que é uma sociedade livre. O director deste jornal limitou-se a dizer uma coisa simples: os percursos de Jorge Coelho, Armando Vara ou Ferreira do Amaral até podem ser legais, mas são questionáveis do ponto de vista moral. Isto não é "uma ofensa puramente gratuita". É, isso sim, uma análise política normal em qualquer democracia liberal. O abismo que existe entre a moral (padrão ético universal) e a lei (norma histórica vigente) é a base do Direito Natural - essa coisa chata que rege as democracias ocidentais. Armando Vara, como tantos outros "boys", desejava ter os privilégios dos poderosos e, ao mesmo tempo, permanecer no anonimato do zé-ninguém. Lamento, mas Portugal não é a Venezuela. Aqui, os poderosos devem ser escrutinados e criticados de alto a baixo. Sem piedade. Sem tréguas. Sem respeitinho.

Crónica do Expresso (Junho de 2008)

Armando Vara, com uma licenciatura em Relações Internacionais (uma subciência mística,  segundo alguns) foi gestor do BCP. Eu, com licenciatura em História e mestrado em RI, posso ser dono do BCP? E um doutoramento em RI dá direito ao quê? Mota-Engil?

Em "Teoria da Responsabilidade Política" (Coimbra Editora), Pedro Lomba fez uma reflexão inspirada pelo ponto central do liberalismo clássico: "as regras de conduta responsável a que os governos estão vinculados são também as regras de legitimidade política". Isto é importante pelo seguinte: de forma errada, a cultura política portuguesa consagra que a legitimidade advém do eleitorado. Isso é um erro. As eleições não são a fonte da legitimidade. Portugal não é uma 'democracia pura' [...]