Tenham calma
Não se passa nada. Amanhã, Cavaco vai dizer que votou PS, e que está tudo bem.
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Não se passa nada. Amanhã, Cavaco vai dizer que votou PS, e que está tudo bem.
... nos últimos catorze anos, o PS governou durante onze anos e meio. Os números não mentem. Se o país está mal, então isso deve-se sobretudo ao PS.
Da crónica do Expresso: "Sócrates é o réu".
Enviesamentos, Gabriel Silva.
O PSD não é dono da direita, até porque continua a não se assumir como de direita. Os 10% do CDS não resultam apenas do fracasso de MFL. Há ali muito trabalho de Portas e do CDS em geral. O CDS está a apanhar malta nova que nunca voltará PSD. O PSD tem duas saídas: ou trabalha à direita para voltar ao poder, ou passará a ser um peso morto. Não há lugares marcados.
A minha mãe liga-me: "votei na velhinha, e perdi. Sabes que não gosto nada de perder, não sabes? Não voto mais". Depois de pensar no dilema, respondi: "olha, mãe, vota na CDU. Os comunistas ganham sempre, mesmo quando perdem". Prefiro uma mãe comuna a uma mãe que não vota. Estou muito cívico.
No essencial da governação, o PS terá de negociar com o CDS. Bom. Depois, para compensar, o PS vai dar umas causas fracturantes à sua esquerda. Haverá muito folclore novamente. Menos mau. O pior era ter o BE a meter a mão no essencial.
E aí vai ser engraçado ver uma coisa: o ultraconservador PCP vai deixar passar as causas fracturantes do BE e PS? Eu acho que não. Já estou a rebolar-me no chão.
1. O PS ganhou as eleições, mas perdeu a maioria absoluta. E o dado institucional mais importante destas eleições é mesmo esse: o PS perdeu a maioria absoluta. E, neste sentido, também perdeu. Não me venham com a "estória" do "quem tem mais votos ganha". Isto não é futebol. O PS perdeu a sua maioria absoluta, logo, perdeu poder institucional, logo, tem de repensar toda a sua forma de fazer política. Mais: o PS perde cerca de 9% em relação a 2005. Mais: Há uns meses, toda a gente esperava que o PS iria conseguir uma nova maioria absoluta. Convém ter memória. O PS sobreviveu, não venceu.
2. Agora, Sócrates tem de fazer um workshop com o político menos "socrático" da história: António Guterres. Sócrates tem de aprender com Guterres as maneiras de governar com maioria relativa. A democracia ganha com isso. E isto também significa a saída de ministros que não sabem o que é a palavra "negociar". A começar pelo ASS. Adeus, ASS. Sabe bem ir p'ra caminha sabendo que o ASS já não vai estar cá amanhã.
1. O CDS é um dos grandes vencedores da noite. É talvez o grande vencedor, dado que é o mais "surpreendente". O CDS vence as sondagens (again), e vence a CDU e o BE na luta pelo terceiro lugar. É muito importante ter o CDS à frente da extrema-esquerda. Respira-se um pouco melhor assim. Um ar mais europeu, e menos Chanel 1975. E fica provado que a juventude portuguesa não está destinada a votar na irresponsabilidade do BE. Há gente nova de direita por aí. Fazem menos barulho, mas andam por aí.
2. O CDS é agora o partido charneira no sistema partidário português. O CDS é aquilo que o BE queria ser: a alavanca do parlamento, e a peça que fica a faltar ao puzzle parlamentar de Sócrates. Ainda bem que este poder caiu num partido que até acredita na democracia burguesa.
3. Resta saber uma coisa: esta vitória de Portas resulta de um crescimento imparável do CDS? Ou resulta da fraqueza do PSD? O CDS está consolidar eleitorado que nunca votará PSD, ou está a receber eleitorado que recusa votar em MFL? Com um líder forte no PSD, o CDS continuará a ter 10%? O CDS tem a palavra. É continuar a trabalhar, como dizia o outro.
1. A resposta a esta pergunta foi dada pela própria MFL: o PSD é, neste momento, um partido autárquico, que se preocupa em manter as redes locais de caciques. Mais nada. A declaração de MFL é ainda mais triste por causa disso. No fundo, MFL veio dizer o seguinte: "perdemos as legislativas, mas iremos vencer as autárquicas, logo, estamos bem". Isto, para um partido como o PSD, é dramático. Com este discurso o PSD deixa de ser um partido de poder nacional e passa a ser - oficialmente - uma confederação de caciques.
2. MFL não tem condições para continuar à frente do PSD. As listas foram uma miséria, sobretudo porque desprezou a gente nova. A campanha foi feita sem profissionalismo, e sem qualquer sentido político. MFL tinha muita razão do seu lado. Muita mesmo. Escrevi isso várias vezes. Foi a única com coragem para dizer que "não temos dinheiro", o "endividamento é um sério problema". Mas em política não chega ter razão no papel. É preciso pegar nessa razão e fazer um discurso político que entre na cabeça das pessoas.E MFL sempre desprezou esta parte da democracia. Não chega ter a razão técnica. É preciso falar com as pessoas. Democracia não é uma aula de economia ou de contabilidade.
3. A nova liderança do PSD tem de resolver uma coisa: o PSD é o quê? O PSD representa o quê ideologicamente? O PSD quer ser apenas uma desculpa para a existência de autarcas ou quer ser um partido liberal e reformista, assumindo claramente a defesa da sociedade contra o Estado?
1. O BE é um dos vencedores da noite. Esta estranha coligação de gente respeitável (a esquerda libertária, pós-moderna, a esquerda das causas, dos golfinhos e dos gays) com gente altamente pouco respeitável (a malta da Albânia) lá vai fazendo o seu caminho. O BE, a par do CDS, roubou a maioria absoluta ao PS. Obrigado, Albânia.
2. Mas temos de fazer uma distinção entre o partido e o seu líder. Porque Louçã é um dos derrotados da noite. A vaidade imensa de Louçã perdeu esta noite. Louçã queria ser primeiro-ministro. Louçã queria liderar a esquerda. Louçã queria comer metade do PS. Afinal, ficou em 4.ºlugar. Mais: nos seus dias mais realistas, Louçã apenas poderia desejar que os deputados do BE fossem necessários para o PS conseguir 117. Nem isso Louçã conseguiu. Estou a rebolar-me a rir com a cara que Louçã deve estar a fazer agora. É que além disto tudo, Louçã ficou atrás do partido dos "fachos" (é assim que, em privado, ou nas caixas da net, os BEs continuam a tratar as pessoas que votam CDS). Vou rebolar-me um pouco mais.
3. Se quer ser uma força responsável, se quer ser como os Verdes na Alemanha (isto é, o parceiro natural de coligação com o maior partido da esquerda), o BE fazia bem em mandar Louçã para a Albânia. O BE pode ser um partido importante e respeitável, mas para isso tem de deixar de ser a máscara do PSR.
1. Não há como fugir à coisa: o PCP perdeu. Ouvindo os comunistas hoje, até ficou a ideia de que o PCP foi o vencedor. Mas esse gap entre o comunista e a realidade é normal. Eles são assim. Mesmo quando tiverem 2%, os comunistas falarão com aquele tom de quem vence sempre (mesmo quando perde). Porque aquele tom é o tom da sua convicção utópica. Um comunista não vive na realidade. Ele vive na sua convicção, logo, manda sempre à fava o pó da realidade. Podem dizer-lhe que “vejam lá, vocês agora são os últimos". Na resposta, ele diz “mas o comunista sente de maneira especial, o comunista é especial”.
2. E este é – finalmente – um sinal de modernidade no nosso sistema partidário. Ver o PCP em último é um marco na história do regime. Ainda falta muito para aquilo que existe na Europa – fim dos comunistas -, mas já é qualquer coisa.
O homem que queria ser primeiro-ministro fica em 4.ºlugar.
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