Sobre o debate de ontem
André Pereira
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André Pereira
1. No blog de José Mário Silva, ler sff este texto do Pedro Mexia sobre o "caso João Bonifácio".
2. Este país está a precisar de dar uma queca. Anda tudo irritado. Anda tudo amuado. Ninguém aceita críticas ou um mero gozo. Se calhar, é normal dado que o nosso PM fala em "liberdade respeitosa", um termo que Salazar ia gostar muito.
Isto está a ficar bonito. O facto de um texto despertar polémica e insultos deveria deixar contentes os responsáveis do jornal, e não o inverso. As pessoas têm a palavra "Liberdade" na boca, mas, depois, na prática, não sabem o que são as liberdades. E convivem mal com elas.
Impedir que os indianos tirem bicas. Cada restaurante indiano tem de ter uma Ti'Maria para tirar bicas. Uma bica tirada por um Chellaney ou Amir é que não.
Além de bonitos, esta malta é inteligente, e civilizada. Henrique Burnay, João Galamba, Pedro Zamith, Ana Matos Pires, Alexandre Homem Cristo, Vasco Barreto, Nuno Miguel Guedes, Sofia Rocha e Diogo Moreira. Eis o novo blog político do Expresso, Aparelho de Estado.
Temos a arte de Zamith, o cepticismo liberal de Henrique Burnay, e o cepticismo tayloriano de João Galamba. Temos as causas de Ana Matos Pires, e a raça telúrica (e jurídica) de Sofia Rocha. Temos Schmitt plus Aron do Alex Homem Cristo, a classe de Nuno Miguel Guedes e a frontalidade olímpica de Vasco Barreto. Na foto, falta o Diogo Moreira, o Mr. Ciência Política/História.
I. Bom, eu adormeci no meio do debate. Foi um debate mesmo mau. Mau demais para ser verdade. Mais de metade do debate foi uma coisa para contabilistas. E eu não percebi nada. Sei que falaram da diferença entre “dívidas aos fornecedores” e “dívidas à banca”, mas não entendi nada. E, como eu, 99% das pessoas que fizeram o frete de ver isto também não entenderam.
Depois, no meio das contas, houve o habitual jogo do empurra das culpas, com Costa a dizer que a culpa é de Santana, e Santana a dizer que a culpa é de Costa. Isto, aliás, é a versão em miniatura do debate que existirá entre Sócrates e Ferreira Leite: só falarão do passado, com PS e PSD a jogarem as culpas para o colo um do outro. Não há ideias políticas concretas para o futuro. Só há ódiozinho pessoal direccionado ao passado.
Os lisboetas querem viver numa cidade onde os prédios não caiam, mas os candidatos falam das contas de 2004! E quando não falam das contas do passado, falam de outra coisa do passado: o túnel. Parece que estão a gozar com quem vive na cidade.
II. Como é que Santana e Costa conseguiram discutir Lisboa sem falar da porcaria de cão nos passeios, nas obras constantes nos passeios, nos passeios sem calçada, no lixo na rua? Como é que falaram de reabilitação urbana sem falar da malvada lei das rendas? Nunca haverá nova vida em Lisboa (ou no Porto, por ex.) enquanto não extinguirmos a jurássica lei das rendas que – basicamente – retirou a propriedade dos prédios aos senhorios. Sem isso nada feito. Eles sabem disso, e são desonestos ao retirar isso do debate.
III. Para se perceber como o debate foi mesmo mau, vejamos o que ficou por falar: mal se falou do aeroporto; mal se falou dos contentores de Alcântara; mal se falou da terceira ponte sobre o Tejo. E sinceramente não percebi as políticas dos candidatos para o trânsito. Mais: não se falou das “empresas municipais” que não passam de coutadas partidárias que vivem à conta do erário público. Ou seja, isto não foi um debate. Foi uma ocasião para assistir ao ódiozinho pessoal entre duas pessoas, que, por acaso, são políticos.
IV. Muita gente questiona-se sobre isto: “como é possível que alguém como o Santana ande ainda por aqui?”. Nunca percebo muito bem o que querem dizer com o “alguém como”. Presumo que se refiram à vida pessoal de Santana, ou ao feitio pessoal de Santana. Não sei nada sobre isso. Mas sei de uma coisa: a política portuguesa é isso mesmo: pessoalismo irritante, um concurso de “imagens” pessoais, onde a política – as ideias políticas – não existem. Neste sentido, Santana não é a excepção, mas sim a normalidade da política portuguesa. Santana irrita porque ele é a personificação da política portuguesa: um vaivém de impulsos pessoais, sem um pingo de ideais políticos. Uma política onde só existe ego, e ódiozinhos pessoais. Uma política sem política, portanto.
Está aí novo blog eleitoral: a Rua Direita. Esperamos que este blog discuta aquilo que o CDS quer ser, e não apenas aquilo que Sócrates fez de errado. Não chega dizer que o outro fez mal x e y. É preciso apontar caminhos diferentes. Realmente diferentes. O mesmo se aplica ao Jamais. A campanha não pode ser apenas um referendo a José Sócrates. Por isso, a ideia de meter num blog do PSD "mais 4 anos de Sócrates? Não" parece-me, a este nível, pouco feliz.
Crónica do Expresso: Astérix de Marx
... não existirá uma plena unidade europeia enquanto os europeus ocidentais não aceitarem que o comunismo foi tão mau como o fascismo. Como cidadãos europeus, devemos prestar homenagem às vítimas do Holocausto e do gulag, e não apenas às vítimas do Holocausto. Exportemos, então, Alberto João para Bruxelas.
PS: existe ainda outro problema dos europeus ocidentais com os europeus de leste. A Europa de leste não se esquece de uma coisa: não foi apenas Hitler que começou a II Guerra. A Polónia foi invadida pela Alemanha mas também pela URSS; Alemanha e URSS invadiram (ao mesmo tempo, em conluio político e em articulação militar) a Polónia em Setembro de 1939. Mais: a primeira fase da guerra foi uma divisão de terras entre nazis e comunistas. A malta, deste lado da Europa, não quer saber disto. Mas a malta, do outro lado, quer. Foram eles que viveram isto.
E se este livro for uma revolta contra a (a)moralidade pós-moderna, que aboliu qualquer ética transcendente?
Tem de existir uma transcendência ética acima do aqui e agora. Tem de existir. Chamem-lhe deus, ética, honra, dever, amor, direito natural, mas tem de existir essa transcendência que me impõe um dever perante o meu filho, ou mesmo perante um completo estranho. O livro mostra isso. Mostra esse dever transcendente que temos para com os nossos, mas também com estranhos. Mostra que a bondade é possível, mesmo num mundo de estranhos, mesmo com o Mad Max apocalíptico a bater à porta.
... a minha mãe disse tudo: "parecem gaiatos pequenos. Não gosto da política assim".
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