Do liberal triste
João,
primeiro, "velho senhor de esquerda" era elogio sincero. Não era picada ou gozo.
segundo, o subtítulo do livro indica isso mesmo: um "liberal triste" é um ser dado ao cepticismo, aquela coisa entre o optimismo e o pessimismo. Na última crónica do livro, surge esta ideia: o meu cepticismo impede-me de ser um optimista lírico, mas também me impede de ser um pessimista apocalíptico. Reconheço a existência de lúciferes e demais arcanjos mal-dispostos, mas também acredito nos "better angels of our nature". Estou afastado do progressismo, mas também não consigo entrar (ainda?) no teu pessimismo soturno.
terceiro, tal como indico no prefácio, sou um pobre "liberal triste", porque, de facto, parece impossível deslocar o debate português para as questões institucionais que fazem, na prática, uma democracia liberal. Os Federalistas são, porventura, uma utopia institucional em Portugal, a terra dos afectos (e dos ódios) e do "pessoalismo". O que não deixa de ser irónico: os federalistas eram homens cépticos e até mesmo pessimistas (Hamilton). Muitas pessoas chegam a dizer que eu sou "lírico", "idealista", por falar em instituições e regras institucionais em Portugal. Lamento, mas eu falo de instituições porque não sou idealista, porque sou céptico em relação aos homens. Daí a necessidade de instituições liberais fortes. Se calhar, os portugueses até são grandes optimistas em relação à natureza humana, tal é o seu desprezo pelo rigor institucional. E estou a falar da elite.