O esquema mental do tuga
1. Na semana passada, não se falava de outra coisa: a golden share da PT. Esta semana já não se fala do assunto. Zero. Este é um dos problemas de Lisboa: a incapacidade para ficarmos a debater um assunto durante algum tempo. Em Inglaterra, a imprensa ainda está de volta do escândalos dos gastos ilegítimos dos deputados. E vão continuar assim, até as coisas irem ao sítio. Aqui, não. Como indiciava o Pedro Lomba no i, a culpa em Portugal morre sempre solteira. E morre solteira porque nunca estamos o tempo suficiente de volta dos assuntos. Fica sempre tudo à superficie. Vamos sempre atrás da agenda partidária, e não temos uma agenda política para o país.
Ou seja, aconteceu o normal: a polémica da PT caiu apenas no comentário ‘partidário’, para se fazer o joguinho ‘partidário’ da semana. A questão da PT seria uma oportunidade - mais uma - para uma reflexão política sobre o regime (‘partidário’ não é o mesmo que ‘político’). Mas, aparentemente, ninguém quer isso.
Até que ponto há comentário político em Portugal independente dos partidos? Os comentadores comentam aquilo que os seus partidos querem?
2. A promiscuidade entre partidos e negócios é uma escolha política da nação. Não é o destino de Portugal. Nós podemos mudar isto. O que me parece é que boa parte das pessoas não quer mudar nada. Querem ser apenas “vencidos da vida”. Porque só assim, só aceitando tudo, se podem queixar de tudo. E este queixume – mesmo quando vem de pessoas que vão à ópera – é a identidade básica do português. Oiça ele Quim Barreiros, Ópera ou U2. O queixume, o dizer-se que "isto é uma merda e será sempre uma merda” é o desporto ontológico do português. E é também um desporto preguiçoso.
3. As golden shares funcionam como campos de férias para os reformados dos partidos. Os senhores do PS e PSD vão para as golden shares quando chegam a velhos. O comum dos mortais, quando chega a velho, vai para um lar de idosos, mas, atenção, vai continuar a fazer aquilo que mais gosta: queixar-se de tudo, queixar-se daqueles que vão para os tachos dourados. "Desistir de pensar, desistir de actuar, passar a vida a destinar amargura", eis uma boa maneira de explicar os portugueses aos bifes.