- Consta que o PSD está a fazer o seu programa de governo. Ora, esse programa tem de resolver – de uma vez por todas – o problema de identidade do PSD. O PSD quer ser o quê? Sendo o PS o partido do Estado (os homens são de esquerda, pá), o PSD só faz sentido – e só tinha a ganhar – em ser o partido da sociedade “contra” o Estado. O PSD quer ou não salvar a sociedade portuguesa deste Estado de coisas? Tem ou não coragem de dizer aos portugueses que o facto de o Estado gastar 35 cêntimos de cada euro que produzimos (só em despesas correntes, fora as prestações sociais; com isso chega-se aos 50 cêntimos no bolso do Estado) é uma indecência que já perdeu a graça?
- Um manifesto assente na palavra “verdade” não quer dizer nada. Não é um manifesto politico. É uma declaração oca, um abraço que se dá ao eleitorado, dentro da esperteza saloia do “ela é honesta, ele não é”. A carinha séria de MFL não chega. Não chega dizer que MFL é séria, que diz a verdade. Isto não é para escolher um amigo ou, neste caso, uma avó. É para escolher um PM. E neste sentido eu não sei o que MFL quer para o país, a não ser que está contra as grandes obras, e que é séria. É pouco.
- O pior que pode acontecer é isto: o PSD pensar que tudo o que é “socrático” é mau. Não é. Uma das coisas que o PSD tem de fazer a sério é algo que Sócrates começou mas não conseguiu (não quis?) acabar: fazer guerra às corporações e sindicatos. Um governo de PSD tem de ser igualmente duro, ainda mais duro, aliás, com as corporações. Se vier agora com a mensagem do diálogo guterrista – por oposição à arrogância socrática – é mau. Se é para isso, deixem-se estar em casa chupando figos.
- O PSD vai ter coragem para cortar na despesa do Estado para depois ter margem para uma necessária baixa de impostos? Vai ter coragem de dizer que o Estado não é a Santa Casa? Vai conseguir dizer que o dinheiro é nosso e não do Estado?
- Vai fazer uma política educativa realmente diferente do PS? Isto é, vai dar autonomia às escolas públicas (libertando-as das DREN - despedindo os milhares de burocratas do MdE que nunca viram uma escola)? Vai apoiar o ensino privado como deve ser? Vai introduzir a medida mais séria e justa: o cheque ensino?
- Na saúde, vai fazer parcerias com outras entidades sem complexos ideológicos? Vai introduzir o cheque-saúde, a medida mais justa (e eficaz) nesta área?
- Tem coragem de impor um código laboral realmente ajustado ao nosso tempo? Um código laboral que retire Portugal do fim a lista mundial (mundial) da rigidez laboral? Como é que Portugal pode competir com os outros parceiros europeus (nem sequer falo do resto do mundo) quando joga na 3.ª divisão mundial em termos de flexibilidade laboral? Alguém faz a gentileza de me responder a isto?
- vai ter coragem de mudar a lei que possibilita que milhares de boys rosa dêem lugar a mulheres de boys laranja na alta função pública? Se quer dar mesmo um exemplo de “verdade”, então MFL deve abolir isso e impor como regra o seguinte: o acesso aos altos cargos da função pública deve ser feito por concurso público, e as pessoas ficam lá seja qual for o governo. Temos de acabar com o espectáculo pornográfico da dança dos boys nas trocas de governos. O cartão partidário não pode continuar a ser o factor de escolha das pessoas para os cargos. Eu vou votar PSD para que os boys rosas dêem lugar a boys iguais mas de cor diferente? Nem pensem.
- Se querem ganhar o poder só por ganhar, se querem ganhar o poder sem dizer as coisas difíceis, então, não vão ter a legitimidade para as fazer quando estiverem no poder. E se o PSD, quando voltar ao governo, não fizer as tais coisas difíceis (salvando a sociedade do estado), se cair no status quo como o PS, então, o PSD nunca mais lá volta, porque será a segunda vez que falha. Não há terceira vez. Até porque, sinceramnte, o regime não aguenta mais este pântano que adia as reformas que têm de ser feitas mas que ninguém faz. É por isso que andamos há 10 anos a divergir da Europa.