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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

19
Mai09

Quotas para mulheres na política?

Henrique Raposo

1. Em primeiro lugar, há que limpar a mesa. Os defensores das quotas, os mais agressivos e agressivas, têm a mania de insinuar que os críticos das quotas são "machistas". E, aliás, este debate é dominado pelo medo que as pessoas têm de ser apelidas de "machistas" (ou de "parvas", quando se trata de mulheres que criticam, e bem, as quotas). É um pouco como noutros debates. Se criticas o islamismo, és "racista". Se criticas o rendimento mínimo, és "insensível". São ainda os efeitos do velho esquema do Comintern: se criticas o comunismo, és "fascista".

 

2. As quotas diluem o mérito dos indivíduos; ou seja, as mulheres realmente capazes e competentes não precisam de quotas. Com um sistema de quotas, o valor individual das mulheres vai diluir-se na tal "igualdade" entre géneros.

3. Mais mulheres na política? Isso não se resolve com quotas. E, em primeiro lugar, há que perguntar uma coisa: por que razão há mais homens a falar de política? Basta olhar para os blogues. Isto não é necessariamente mau. Se as mulheres preferem falar de livros, cinema, etc., por que razão isso será mau? Eu acho isso óptimo. Livros e cinema são melhores temas do que política. Em segundo lugar, podem colocar as quotas que quiserem, porque nada será feito enquanto a família não ajudar a mulher/deputada. Se o marido da mulher não a apoiar lá em casa (tratando da famíla, etc.), nada feito. isto é uma questão de cultura, de respeito, ou seja, é uma questão que não se resolve com medidas políticas. É uma questão que se resolve dentro das quatro paredes de cada casal.
Neste aspecto, é visível uma das manias da política moderna: a ideia de que o Estado, através da lei, tudo resolve. Há coisas que não são políticas. Esta é uma delas. Há questões que são do nível pré-político. Não têm resolução política imediata e por decreto. Têm resolução “social” e lenta. Mais: podem não ter resolução, pois podem muito bem não ser problemas reais, mas sim ficções destinadas a preencher agendas políticas.

19
Mai09

Turquia, sim

Henrique Raposo

- Faz sentido, faz, caro Luís Naves. Aliás, a freedom house considera a Turquia como país semi-livre devido ao papel que os militares têm no sistema político. Era preciso um “1982” na Turquia para que esta fosse uma verdadeira democracia liberal, à semelhança das outras democracias europeias. Os militares, os guardiões do secularismo, são o principal entrave institucional à entrada da Turquia na UE. E os magistrados que processam pessoas por “delito de opinião” contra a “turquicidade” são outro.

- Uso “jacobino” no sentido analítico do termo: o ódio de morte à religião; o querer retirar a religião da própria sociedade. Não se trata de tirar a religião do Estado (ainda bem), mas de se proibir a própria religião na sociedade (ainda mal). Na viagem que fiz a Istambul, o presidente da associação de escritores turcos dizia-me que queria um secularismo americano e não o secularismo francês que existe na Turquia desde 1923. O AKP não quer transformar a Turquia num Estado Muçulmano. Quer “apenas” que as pessoas, políticos inclusive, possam demonstrar a sua fé. Alguém põe em casa o secularismo dos EUA só porque Obama põe a mão em cima da bíblia?

O Luís Naves, se me permite, está a ser injusto com o AKP. O AKP não é um movimento islamita. O partido islamita turco, se não estou em erro, tem apenas entre 3% a 5% dos votos. O AKP não é islamita, mas sim islâmico. Não podemos confundir as coisas aqui. E sobretudo não podemos pensar que tudo o que é islâmico é mau. O AKP é um partido democrata-islâmico, tal como existem partidos democratas-cristãos. Alguém vai dizer que o Estado Alemão é "cristão" quando a CDU está no poder? Tal como os partidos democratas-cristãos quiseram dignificar o legado cristão dentro da política moderna (respeitando essa política moderna), também o AKP quer dignificar a tradição muçulmana dentro da política moderna. E tem esse direito. Mesmo quando não se concorda com os tais "costumes". O AKP diz as mesmas coisas que os irlandeses diziam nos anos 70 (aborto, etc), mas a Irlanda entrou na mesma. E é assim mesmo. Se começamos a falar de "costumes" ninguém se entende. E a UE não é sobre "costumes", mas sobre "instituições".

Não é por acaso que os liberais turcos (uma espécie de ponte entre nacionalistas kemalistas e islâmicos) criticam mais os kemalistas do que os islâmicos.

- Energia: quanto mais íntimos da Turquia, melhor. Força armada: hoje, a questão  é fortalecer a PESD, até para que os europeus cumpram o seu dever dentro da NATO. Aí, as tropas turcas davam muito jeito. 
 

19
Mai09

Mijinha de Caridade

Henrique Raposo

1. Crónica do Expresso: "Rendimento Social de Exclusão".

 

2. Tendo em conta o fracasso do RSI (fracasso que as pessoas não gostam de registar, porque a realidade, de facto, não é bonita - e por isso preferem criticar o mensageiro em vez de olharem para o mal), nunca percebi por que razão não existe em Portugal um debate sério sobre outras formas de ajuda estatal à pobreza. Parece que estamos obrigados a dar o RSI, sabendo que ele não funciona. Ou seja, através do RSI, a sociedade e o estado fazem a sua mijinha de caridade e depois olham para o lado. 

Existem outras formas de ajuda. No Brasil (e em muitos outros países), o microcrédito é uma realidade. Ao nível do poder local, as pessoas conseguem empréstimos para reactivar a sua vida. O microcrédto tem, a meu ver, duas vantagens sobre o RSI. (1) Não é um subsídio, é um empréstimo. Há aqui uma responsabilização directa, e não a cultura do "deixa andar" do RSI. (2) O microcrédito é para algo em concreto, algo que vai ajudar a vida daquela família. Não é dinheiro dado sem critério; não é dinheiro que acaba em Playstation e em belos anéis no dedo.

Muhammad Yunus tem de chegar às Belas Vistas.

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