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Os directores de fotografia são como os guarda-redes: são essenciais, mas fala-se pouco deles. Uma equipa sem um bom guarda-redes não vai a lado nenhum. Mas ninguém vai à bola ver o gajo das luvas. O mesmo se passa com os directores de fotografia. Não há bom cinema sem eles, mas ninguém vai ao cinema por causa deles (quer dizer, eu vou, mas eu queria ser director de fotografia, ou montador; e também era o único tipo que ia à bola ver o Preud'Homme).
Quando olhamos para este cartaz, só vemos o nome das estrelas e do director. Mas a cor e a a imagem é de Jack Cardiff, que morreu ontem. Foi um dos melhores e um dos mais resistentes directores de fotografia (o homem começou a fazer cinema ainda no tempo do mudo). Transformou a tela do cinema numa verdadeira tela de pintura. Cardiff é um daqueles que confirma uma velha tese aqui do aprendiz de cinematographer: os directores de fotografia, e não os pintores, são os verdadeiros pintores da nosso tempo. Os pintores andam a fazer, há décadas, sociologia da pintura. Os directores de fotografia pintam mesmo; as imagens mexem-se, mas não deixam de ser pintura.
Cardiff fez um dos meus filmes preferidos: Black Narcissus, realizado por Powell e Pressburger. Ainda tem outros muito bons com Powell/Pressburger: Red Shoes, e A Matter of Life and Death. Mas o Black Narcissus é especial. Quem ainda não viu, tem de ver. A dupla Powell/Cardiff é, aliás, uma daquelas duplas mágicas, a par de Scorsese/Schoonmaker, Leone/Morricone, Mann/Spinotti, Hitchcock/Herrmann, etc.
PS: a imagem aqui por baixo é do Black Narcissus: parece literalmente um quadro; um estudo sobre a luz, tal como faziam os clássicos da pintura.
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