Uma vizinha minha, a Laurinda, foi empregada de uma bela ricaça "lesboeta". A esbelta endinheirada, às portas da morte, deu imensos livros à Laurinda. O facto de ela, a Laurinda, não saber ler não demoveu o acto de caridade literário. Agora, com a Laurinda prestes a partir para o outro lado, os livros, um espólio imenso, foram depositados na minha biblioteca. "Como o menino lê muito".

Assim, de repente, e sem fazer nada para isso, passei a ter vários Camilo de 1905 e 1912. Um deles trazia um totobola de 1965. "30 de Maio 965", diz assim no Boletim. Por que razão tiravam o "1" de "1965"? Não interessa. O que interessa é que nessa semana de 965 o Pacto de Varsóvia tremeu com um épico Roménia vs. Checoslováquia. (Não sei porquê, mas "Checoslováquia" é das palavras que mais amo na vida; todos os países que desaparecem passam a ser lindas palavras?).

Páscoa,

Lourenço Ataíde Cordeiro

1. Uma fragata portuguesa está a patrulhar as águas da Somália. Perante o mais leve sinal de perigo, os militares portugueses falam em subsídios de risco. Em Portugal, as TVs abrem os telejornais com essa exigência corporativa. Eis uma caricatura da incapacidade militar europeia.

2. Quando Sarkozy tentou - e tenta - mudar as forças armadas francesas, encontrou a oposição corporativa dos três ramos das forças armadas. Os três ramos não pensam no interesse estratégico da França; os três ramos pensam corporativamente uns contra os outros. Ou seja, o Exército não pensa no que é melhor para a França e UE; o Exército pensa assim: "se os pulhas da Marinha tiveram X, então, eu também quero". Isto aplica-se a Portugal e a qualquer país europeu. O ponto de referência não é o exterior, os problemas que estão no exterior, mas sim as intrigas corporativas do nosso interior.

Deixem a crise em paz,

Pedro Lains