Skywalker, Bruce Wayne e Todorov, ou a pesada filosofia moral na cultura pop
“O Cavaleiro das Trevas” e “A Vingança dos Sith” têm uma coisa em comum. Aliás, essa coisa em comum é a pergunta-chave que percorre os dois filmes. A pergunta é esta: até onde podemos ir na defesa do “Bem”? Qual é o limite do “Bem”? Bruce Wayne e Skywaker encontraram diferentes respostas para esta pergunta.
Anakin Skywalker vive angustiado com a presença do Bem, com a possibilidade de existir uma salvação absoluta, com a possibilidade de salvar aqueles que ama. Essa obsessão com o Bem acabará por ser aquilo que transforma Skywalker em Darth Vader. O jovem jedi transformou-se num sith, porque não soube colocar limites à sua busca pelo Bem. O seu “bem” é absoluto e sem concessões à realidade. E este “Bem” absoluto é o caminho mais rápido para o mal. Aliás, é esse a metáfora de toda a saga Star Wars: o mal advém de um bem absoluto.
A resposta de Skywalker à pergunta é, portanto, esta: não há limites para quem procura fazer o bem.
A resposta de Bruce Wayne é, precisamente, a oposta: há limites para os guardiões do bem. Ao contrário de Anakin Skywalker, Bruce Wayne não se deixou embriagar com o “Bem”, e com o seu papel de guardião desse "bem". O filme “O cavaleiro das trevas” gira em torno dos limites que Wayne coloca a si próprio. E o Joker surge como o teste final a esses limites. O mal absoluto – Joker – pode legitimar o poder absoluto daqueles que – supostamente – defendem o bem? Não.
No final do filme, ficamos a saber o seguinte: Wayne pensa que o caminho do bem é sinuoso e pouco claro. No fundo, Wayne percebe o seguinte: o caminho da ética não está em fazer o "bem", mas sim em evitar o “pior”. Aposto que Todorov gostou deste Bruce Wayne de Christopher Nolan.
Wayne recusa dar o salto que Anakin deu. Aceita compromissos com a realidade. Aceita, inclusive, ser visto como o “mau da fita”. Aceita não ser o herói. Aceita não ter a glória que advém da defesa do bem. Porque esse é o mal menor num mundo onde não pode haver um Bem absoluto, o pior dos males.