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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

28
Fev10

O morto que anda

Rui Ramos

Há uns anos, um filme com Sean Penn ensinou-nos que nas prisões americanas se grita “dead man walking” quando um condenado é levado à execução. Não sei se alguém já se lembrou de gritar o mesmo à passagem de José Sócrates nos corredores do nosso poder. Seria talvez um caso de mau gosto, mas não de exagero. Há ainda, no entanto, dois erros que todos podemos cometer a propósito deste defunto ambulante. 

 

O primeiro diz respeito à causa do óbito. O situacionismo, pelas suas variadas bocas, não quer vislumbrar mais do que uma questão de “personalidade”. É uma miopia muito conveniente para quem nada quer mudar a não ser nomes. Só que o grande problema de Sócrates não é o Freeport ou a Face Oculta, mas outra coisa: o fracasso da ideia de fazer crescer o país, num contexto de união monetária europeia, através do investimento público em educação e em infra-estruturas. Foi esse o roteiro que Sócrates perfilhou em 2005. Por isso, nunca teve alternativa na oposição, já que desde a década de 1990 que o regime, da direita à esquerda, não quer seguir outro caminho. O projecto falhou com ele, que talvez seja um pecador, como teria falhado com outro, mesmo se fosse um santo. Se Sócrates, segundo os seus inimigos, tem dificuldade em lidar com a “verdade”, a restante classe política não mostra menos dificuldades em lidar com a verdade do fracasso de Sócrates. 

 

O segundo erro consiste numa tentação: aproveitar o facto de o morto ainda andar -- para o pôr a andar por conta de outrem. A súbita abnegação patriótica da classe política, mais uma vez da direita à esquerda, é revelador: ninguém deseja adicionar outra crise à que já há; todos se dispõem a deixar Sócrates chegar ao fim do “ciclo”. Não se trata apenas de esperar que o governo caia por si. A semana passada, num assomo de sinceridade, António Pires de Lima veio aqui confessar o esquema. Sócrates ficaria no governo, como uma espécie de títere de faxina, para limpar a casa até aos 3%. Só então a oposição apareceria para reclamar as chaves e fazer-nos o grande favor de começar a sua obra de reforma. Em suma: a boa moeda recusa-se a voltar e quer obrigar a má moeda a continuar em circulação. Não duvido das boas intenções. Mas o resultado seria termos, nos próximos anos, uma política resumida a transacções técnicas de bastidores, como as do último orçamento, e uma governação anónima e de responsabilidade limitada. Acreditam que é assim que se criaria ambiente para a tal reforma, se é esse o objectivo?

 

O pós-socratismo não será fácil. Sem Sócrates como tema de conversa, seremos forçados provavelmente a falar do verdadeiro problema: o nosso modo de vida. Os portugueses terão de optar: ou tapamos apenas os buracos maiores e prosseguimos o declínio económico e social, talvez sob tutela europeia, como uma espécie de Kosovo financeiro; ou rompemos com “isto” e trabalhamos para mudar de vida. O governo de que o país precisa é aquele que o obrigue a dizer finalmente o que quer. Até pode ser “isto”, por não poder ser outra coisa – mas convém-nos saber de uma vez por todas. 

 

Publicado no Expresso, 20 de Fevereiro de 2010.

 
26
Fev10

Sócrates devia escrever livros de "auto-ajuda"

Henrique Raposo

O "A Tempo e a Desmodo" de hoje:

 

[...]

III. Então, por que razão Rui Pedro Soares e Paulo Penedos afirmavam, entre si, que Sócrates estava a par de tudo? Bom, há três hipóteses. Primeira: Sócrates está a mentir. Segunda: como salientou Miguel Sousa Tavares, Rui Pedro Soares e Paulo Penedos são "loucos", e inventam conversas onde colocam os nomes de Sócrates e Armando Vara (eles ainda são novos, portanto, ainda podem gostar de brincar "aos papás e às mamãs" em versão política). Terceira: José Sócrates e Rui Pedro Soares partilham um novo tipo de amizade. E esta amizade, digamos, esquizofrénica funciona assim: temos amizade por uma pessoa até ao meio-dia. Mas, depois do meio-dia, deixamos de ter amizade por essa mesma pessoa. Desta forma, essa pessoa não pode afirmar, à tarde, que falou connosco de manhã. Se o afirmar, estará a mentir. É uma nova versão do "José versus José Sócrates".

[...]

26
Fev10

O jotinha grisalho

Henrique Raposo

 

A crónica de sábado passado:

 

Caro dr. Mário Soares, os seus artigos têm provocado desilusões faraónicas. Roma está a arder, e V. Exa. anda a dizer que Nero é fixe. Os mais velhos dizem-me que V. Exa. é o progenitor dourado da nossa democracia. Eu não gosto de desautorizar a brigada do reumático, mas tenho de dizer uma coisa: V. Exa. não tem agido como o pai da democracia. Do alto do rochedo que é o seu prestígio, o dr. Soares tinha o dever de ser um senador a pairar acima da politiquice partidária. O dr. Soares devia estar preocupado com as regras institucionais, que estão acima de qualquer partido. Porém, V. Exa. tem actuado como se fosse um mero apparatchik do PS. Caro dr. Soares, o seu último artigo do "Diário de Notícias" parece que foi escrito por um 'jotinha'. É isso mesmo: V. Exa. tem sido o 'jotinha' grisalho do PS. Esperava-se mais, dr. Soares, muito mais. Esperava-se que V. Exa. colocasse o espaço público acima da sua tribo. Esperava-se que V. Exa. colocasse as regras institucionais que garantem a transparência pública acima do 'seu' PS. José Sócrates rasgou todas essas regras, mas V. Exa. assobia para o lado. Roma arde, e V. Exa. abraça Nero.

[...]

25
Fev10

Pro ano

Henrique Raposo

 

                  Um gajo qualquer             Saviola
 
 
Simão                                  Aimar                            Reyes
 
 
                                             Javi Garcia
 
 
Diana Chaves       Luisão                  David Luiz       Maxi
 
                                           Toldo, ou assim
25
Fev10

Livros da década: Ruy Castro

Henrique Raposo
25
Fev10

The Portuguese Economy

Henrique Raposo
24
Fev10

Al Swearengen

Henrique Raposo

 

Não sou grande adepto das séries de TV. Mas isto é uma coisa à parte. "Deadwood" não é uma série, é um grande filme, um grande western. E este tipo, Al Swearengen, é uma das melhores personagens de cinema dos últimos tempos. É que isto é cinema, não é TV.

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