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Clube das Repúblicas Mortas

Clube das Repúblicas Mortas

31
Mai09

"Como é que Deus permite isto?"

Henrique Raposo

 

1. Em “O Homem em Queda”, Don DeLillo recria um grupo de pessoas que partilha as suas angústias sobre o 9/11. Alguém pergunta: “Como é que Deus deixou aquilo acontecer? Onde estava Deus quando aquilo acontece?”. Esta pergunta – que percorreu, com certeza, a cabeça de muita gente – tem um lado perigoso, que se esconde na aparente benignidade da inquietação.

 

2. Esta pergunta parte do pressuposto que a nossa vida resulta de um plano divino, parte do pressuposto de que as nossas acções resultam desse plano; em suma, parte do pressuposto de que os homens não têm livre arbítrio e apenas estão aqui para serem títeres de Deus (Curiosamente, esta visão superficial é partilhada pelos ateus). Ora, se Deus existe, Ele existe para dar livre arbítrio aos homens, e não para os conduzir ao longo da vida. Deus dá liberdade de escolha aos homens. Os homens, depois, é que decidem o que fazer com essa liberdade de escolha. Deus deu liberdade aos homens que fizeram o 9/11. Eles escolheram livremente fazer aquilo. Deus nunca os poderia travar, pois isso significava anular o seu livre arbítrio.

 

3. A pergunta “Como é que Deus deixou aquilo acontecer?” é uma angústia que esconde a pulsão autoritária. Aquele que tem esta angústia é aquele que não suporta o fardo da escolha inerente ao livre arbítrio; é aquele que mete o pé na escadinha autoritária .  É aquele que, de forma mui muçulmana, procura refúgio na submissão ao Deus que tudo arquitecta. É esta forma de pensar que abre portas ao poder político autoritário, aquele que nos alivia da angústia da escolha; aquele poder político que se comporta como Alá na terra.

 

4. Esta angústia revela ainda como é difícil aceitar uma das lições vitais de Hannah Arendt: não existe uma Humanidade seguindo um caminho (indicado por Deus, indicado pelas leis da História ou pelas leis da Ciência); existem apenas homens. E esses homens seguem caminhos diferentes uns dos outros. E aquilo que para uns parece ser um horror, é para outros a glória absoluta. O tal pluralismo é uma dura questão de facto. Não é um estado de alma.


5. É bom ter isto em mente, porque já por aí andam os vendedores "daquele produto que nos retira a angústia da escolha". Esse produto chama-se nacionalismo, de esquerda e de direita, e costuma aparecer nestas alturas de crise, quando a malta se esquece muito rapidamente de décadas de crescimento provocado pela abertura não-nacionalista. 

30
Mai09

Chorar por procuração (ou a pedofilia moralista)

Henrique Raposo

 

Para o livro, adaptei (reescrevi) uma velha crónica do blog da Atlântico. Esta crónica é sobre a relação entre os jornalista-do-directo e o caso Maddie. O que ali escrevi aplica-se ao novo caso do país-que-adora-fazer-pornografia-moralista-com-crianças. É uma espécie de pedofilia moralista. 

 

O caso Maddie revelou que os nossos telejornais já não estão interessados em fazer jornalismo. O negócio central das TVs, neste momento, é a telenovela. E a telenovela dos telejornais tem uma vantagem sobre a novela da Globo: utiliza personagens da vida real. Os jornalistas pegam em elementos do real (duas ou três pessoas) e recriam uma novela virtual à base de emoção e especulação.

Perante o desaparecimento da menina inglesa, os nossos jornalistas não mostraram um espírito jornalístico. A partir daquela pequena vila algarvia, os jornalistas emitiram emoção barata para todo o país. À hora do jantar, a par da dose de batatas e bacalhau, os portugueses receberam a dose diária de sentimentalismo. Não estou a dizer que as televisões deveriam ter ignorado o caso. Não é isso. Claro que este caso merecia espaço nos telejornais. Mas uma coisa é reportar um caso; outra coisa, bem diferente, é especular em cima da emoção do momento sem qualquer base empírica. Sem factos para relatar, os repórteres – ao longo dos infindáveis directos – apenas revelavam a sua emoção pessoal. Era como se os repórteres tivessem em sua posse uma procuração para sentir a emoção de todos os portugueses ali no local do infortúnio. Chorar por procuração, eis a missão auto-imposta das televisões portuguesas.

Este caso revelou, mais uma vez, um país com tendência para entrar em transes colectivos. Estes constantes transes virtuais permitem aos portugueses fugir dos seus problemas reais. Não por acaso, os jornalistas sugaram este caso de forma emotiva, mas nunca fizeram uma reportagem sobre o péssimo funcionamento institucional da PJ. Em Portugal, a emoção dá sempre cinco a zero à razão.

 

30
Mai09

E livros, caro "i"?

Henrique Raposo

Quando apareceu, o "i" dizia que queria competir com o "Público". Tem feito coisas excelentes, mas outras menos boas. Se o "i" quer competir dentro do público-elite, então, por que razão trata tão mal os livros? Não estou a dizer que é preciso fazer um "Y" dentro do "i". Estou apenas a dizer que um jornal de referência não pode resumir a secção de livros a uma página de 8 em 8 dias. Idem para os filmes. Idem para a música. 

30
Mai09

Refundar a Justiça

Henrique Raposo

Começa a ser evidente que o statu quo da nossa justiça e do nosso Ministério Público está errado e tem de mudar. Existem várias alternativas para esta mudança, e essa mudança passa sempre pelo lugar do PGR.

(1) Há tempos, Eanes dizia que o PGR devia ser nomeado pelo Presidente. (2) Medeiros Ferreira afirma que o PGR deve ser eleito directamente pelos portugueses. (3) Existe uma terceira via: o modelo americano, do Attorney General, é um modelo a seguir, isto é, o PGR deveria ser o Ministro da Justiça. O país deveria discutir estas questões; deveria existir um debate em redor destas reformas institucionais na justiça. Mas parece existir uma incapacidade da elite portuguesa para refundar o regime. Preferem andar de escândalo em escândalo; escândalos "pessoalistas" que adiam - até quando? - as reformas institucionais necessárias. 

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